Transmissões esportivas crescem no streaming e, para especialistas, caminho não tem mais volta





"Esportes e streaming nasceram um para o outro?" foi a pergunta que norteou um dos painéis da Vidcon nesta sexta, 7. A mesa buscou debater qual o futuro das atrações esportivas ao vivo com o fim do monopólio televisivo e o que muda na relação com a audiência.

Para Fred Bruno, jornalista e criador de conteúdo de futebol, a mudança é cultural: "O streaming se popularizou. É democrático e representa a voz do torcedor. Hoje, quem quer uma transmissão mais tradicional vai para a TV, enquanto quem quer uma transmissão mais flexível e descontraída vai para o streaming. Isso impacta até na relação com os jogadores. Por eles serem mais novos, e muitos também serem criadores de conteúdo, eles se sentem mais à vontade falando com pessoas mais próximas deles, como nós. Sempre busquei humanizar o jogador, deixar ele mostra seus medos e inseguranças. Tem perguntas que só nós podemos fazer. Se o repórter tradicional faz, os torcedores já falam que ele está 'zicando' o time. Criamos uma proximidade com o jogador, que identifica a gente como amigo. Com a TV, ele tem mais receio de falar algo que tome uma proporção maior e acabe prejudicando. A proximidade e humanização que trazemos com a internet ajuda muito".

PVC, jornalista e comentarista com passagens por grandes veículos de comunicação e que hoje compõem o time de transmissões esportivas do Paramount+, destacou que, antes, as pessoas voltavam correndo pra casa para ver o jogo. Hoje, saem de casa levando o jogo consigo. "É importante pensar sempre no conteúdo. Para conversar com as pessoas, precisamos levar conteúdo. Agora, temos diferentes formas para contar essa história. Streaming tem muito espaço. Estamos falando com nichos, por isso é fundamental entender o que esse nicho quer ouvir de você. Cada pessoa vai ter sucesso com um nicho diferente. Mas o segredo é sempre o mesmo: qual é minha mensagem e quem é o receptor dessa mensagem. Cada usuário procura a comunicação que ele quer. O streaming consegue pulverizar – acho que democratizar ainda não é a palavra – e permite que cada pessoa veja aquela mesma história do jeito mais confortável para ela", definiu.

Personalidade dos talentos e particularidades da plataforma

O streaming abriu não só novas possibilidades de consumo para a audiência, mas também de atuação para os jornalistas, narradores e comentaristas. Luis Felipe Freitas, que narrou a Copa do Mundo FIFA de 2022 e a Copa do Mundo de Clubes da FIFA de 2022 pela CazéTV, ressaltou: "Vamos dar nossa interpretação e nossa cara na hora de entrevistar um jogador ou narrar um jogo. Mas existe também uma diferença entre o que é Paramount+, Prime Video, YouTube, CazéTV… Com plataformas diferentes, as mensagens passadas são diferentes por si só. Minha personalidade está embutida em qualquer janela que eu vá narrar, mas as particularidades da plataforma são levadas em conta. Diante de tantas possibilidades, quando uma pessoa busca seu canal, ela sabe o que vai encontrar, já conhece o jeito que a história é contada ali. É um período de transformação contínua, mas acho que a originalidade e a personalidade acabam sendo os grandes diferenciais. O enlatado, aquela coisa enraizada, esse padrão não existe mais. O padrão somos nós que vamos fazer".


Novas possibilidades para a publicidade

Em relação à publicidade nesse ambiente, Lucas Rizzo, sócio e gerente de negócios na Livemode, afirmou: "Na CazéTV, por exemplo, temos uma união de um conteúdo que traz audiência, que é a transmissão do futebol ao vivo, e vozes poderosas dessa geração. É uma combinação que gera uma conexão verdadeira com o público, e quando a marca se insere nisso, ganha o privilégio de fazer parte dessa conexão. O digital permite a criação de novos formatos de publicidade, e isso vale para o futebol também".

Nesse sentido, Rizzo enfatizou que, no streaming, não existe a grade restrita da TV, o que permite que as transmissões esportivas ganhem um "pré" e "pós" jogo mais extensos. "Nossa experiência com essa flexibilidade é boa. É mais tempo para contar o histórico do confronto, fazer coisas diferentes. E essa liberdade para contar mais histórias também pode trazer mais das marcas. O poder do conteúdo vai muito além dos 90 minutos. Começa antes e dura muito mais", observou.


A "nova" segunda tela


Se antes plataformas como o YouTube eram chamadas de "segunda tela", pois os consumidores acompanhavam a plataforma pelo celular enquanto viam TV, hoje o jogo é um pouco diferente. "Antes a gente associava a segunda tela ao streaming, ao YouTube, a coisas que assistíamos pelo celular. Mas as pessoas assistem o YouTube pela TV hoje. Acompanham a transmissão do jogo na TV e, no celular, a segunda tela também está presente: quando acontece alguma coisa no jogo, você quer saber o que seus amigos estão falando no WhatsApp, qual é o comentário no Twitter", exemplificou Fred Bruno. Rizzo endossou a ideia e revelou que, na CazéTV, 60% da audiência vem de Smart TVs.


Por fim, Fred resumiu: "Estamos numa época de transição importante, e que não tem mais volta. Ainda é meio confuso para o público geral saber onde cada jogo vai passar, por exemplo, o que significa que temos questões para evoluir. Mas já estamos nos adaptando. Os esportes e o streaming estão juntos e não tem mais volta". Já Freitas acrescentou: "Na Copa do Mundo na CazéTV, nós concorremos com a Globo. E explodimos de audiência, inclusive nos jogos do Brasil, porque as pessoas, por vários motivos, optaram por assistir conosco. A TV aberta ainda tem um alcance gigante – o Brasil tem muitos problemas de internet – mas talvez no futuro não tenha mais. Aí a competição por direitos vai ser mais acirrada. E dentro desse resultado, teremos cada vez mais empresas diferentes fazendo comunicações diferentes".


Com informações  TELA VIVA

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