A invasão da Rússia à Ucrânia, em fevereiro deste ano, deu início à maior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial: cerca de 7,5 milhões de pessoas deixaram o país. Mas muitos não tiveram a mesma chance e, por falta de condições financeiras, problemas de locomoção, medo ou puro patriotismo, logo, se tornaram alvos do exército de Vladimir Putin. O documentário 'Abrigo – Inocentes sob Ataque', que a GloboNews exibe no próximo domingo, dia 11 de dezembro, às 23h, lança luz sobre os protagonistas muitas vezes esquecidos em uma guerra: aqueles que não estão no front e ainda assim são alvejados, direta ou indiretamente.
Durante quase dois meses, o fotógrafo e documentarista independente Gabriel Chaim acompanhou o sofrimento de civis que tiveram que deixar suas casas, que perderam parentes em bombardeios e de famílias de soldados mortos em combate. Chaim chegou a Kiev poucos dias antes do início do conflito e registrou desde o primeiro ataque a um prédio residencial até o momento em que as tropas russas abandonaram a estratégia de tentar tomar a capital Kiev, deixando para trás o massacre estarrecedor na cidade de Bucha e muita destruição em localidades próximas, como Irpin, Borodianka e Chernihiv. Em Kiev, ele mostra o drama de mulheres que tiveram filhos em maternidades improvisadas em bunkers. "É uma mistura de emoções, de felicidade e medo, pela indefinição sobre o amanhã que não sabemos como será", diz uma ucraniana que havia acabado de dar à luz.
Gabriel Chaim também ouviu famílias que precisaram abandonar não apenas suas casas, mas sua própria história, "Somos gratos ao soldado que nos protegeu e nos trouxe para esse abrigo. As crianças não querem sair na rua. Temos medo, ficamos aqui. Fazemos amigos, as pessoas se ajudam, dão conselhos, as crianças trocam brinquedos, mas também pedem para ir para casa. É muito difícil", relata uma mulher abraçada ao filho, sem conseguir conter as lágrimas.
Em Irpin, cidade que fica a 4 km de Kiev, o documentário mostra um cenário assustador. Ruas desertas e destruição por toda parte. No final de março, dos 65 mil habitantes de Irpin - apenas 3.500, ou seja, 5% do total – permaneciam na cidade bombardeada e sem energia elétrica. "Ir para onde? Temos que ficar aqui e nos defender. Está errado quem vai embora. Não sabem nem se vão chegar a algum lugar", afirma uma idosa com quem Chaim conversou. "Para partir é preciso ter dinheiro. E onde conseguir dinheiro? Meu filho está no front. A mulher dele foi com o meu neto para o Oeste da Ucrânia. Lá é difícil reconstruir a vida, então, eu e minha filha ficamos aqui. E assim vamos vivendo", conta outra ucraniana.
Chaim também esteve em Mariupol, palco de um capítulo dramático nos primeiros meses do conflito, e onde aconteceu um dos maiores êxodos. Cerca de 75% da população de 450 mil pessoas deixou a cidade. "Durante três semanas vivemos uma situação terrível. Nos bombardearam do céu e da terra. Só rezávamos e tentávamos sobreviver. Primeiro desligaram todas as redes de abastecimento. Não tinha água, luz, gás nem aquecimento. Um horror", narra uma moradora que fugiu da cidade com os filhos e não tinha notícias do marido militar há 10 dias. O prédio que a família morava foi completamente destruído.
O documentário de Gabriel Chaim mostra ainda a solidariedade dos cidadãos que se mobilizaram de várias maneiras para aliviar o sofrimento dos compatriotas cujas vidas foram abaladas de forma irreversível pela guerra. Especialista em áreas de conflito, Chaim é autor de outros dois documentários da GloboNews finalistas no Emmy: 'Síria em Fuga' e 'Aliados'.
O documentário 'Abrigo – Inocentes sob Ataque' vai ao ar no próximo domingo, dia 11, às 23h, na GloboNews.
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