(reprodução/Globo) |
Nesta sexta-feira (20/12), foi anunciado que Sandra Passarinho deixou a Rede Globo, após 50 anos trabalhando na emissora.
A jornalista começou com apenas 19 anos
trabalhando como estagiária e subiu até se tornar uma das repórteres
mais importantes da emissora.
A nota oficial, assinada por Ali Kamel, revelou a origem do nome Passarinho.
“Alguns nomes se transformam em uma
verdadeira marca. E assim é o nome dela. Na verdade, o nome que Sandra
ganhou logo que chegou à Globo, com apenas 19 anos. Pequena e rápida,
ela me contou que foi batizada por Borjalo: Passarinho. E, assim, o
apelido virou nome e o nome fez história”, estava escrito.
O comunicado também informou os motivos para a saída.
“Nesse ano em que se completam 50 anos
desde que entrou na Globo como estagiária aos 19, Sandra me procurou
para dizer que decidiu deixar o jornalismo diário. Notem, não deixará o
jornalismo, mas terá um outro ritmo. Um dos amigos que fez em Londres,
na Polytechnic of Central London, a convidou para participar de um
projeto pioneiro. E sem a necessidade de se mudar para Londres”, disse.
Para concluir, o texto agradece Sandra por todos esses anos.
“Eu então quero agradecer à Sandra pela
imensurável contribuição que ela deu ao jornalismo da Globo e ao
jornalismo brasileiro. E por ter inspirado tantos e tantos
profissionais”, finalizou.
Leia na íntegra a mensagem distribuída
pelo diretor-geral de Jornalismo da Globo, Ali Kamel, para a equipe,
comunicando a decisão de Sandra Passarinho de deixar o jornalismo diário
e abraçar novos projetos:
“Alguns nomes se transformam numa
verdadeira marca. E assim é o nome dela. Na verdade, o nome que Sandra
ganhou logo que chegou à Globo, com apenas 19 anos. Pequena e rápida,
ela me contou que foi batizada por Borjalo: Passarinho. E, assim, o
apelido virou nome e o nome fez história.
Carioca, filha de pai lituano e mãe
brasileira, Sandra Laukenickas descobriu a profissão por acaso. Numa
conversa recente, ela me contou que fez vestibular para Sociologia. E
passou para o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, o mesmo
em que me formei. Meses depois, o curso foi interditado pela ditadura
militar e a estudante decidiu fazer Comunicação Social na mesma
universidade. Não concluiu o curso, mas aceitou o convite para fazer um
estágio na Globo. Era 1969 e começava ali um casamento indissolúvel:
Sandra, agora Passarinho, e o jornalismo. Teve a carteira assinada em
1970.
No começo daquela década, enquanto a
censura dificultava a cobertura dos fatos nacionais, o noticiário
internacional era a saída possível. E, em 1972, Sandra já fazia sua
primeira aproximação com os fatos que ultrapassavam as nossas
fronteiras. Com uma bagagem cultural expressiva e o domínio de línguas,
foi convidada para ser editora do recém-criado Jornal Internacional, um
jornal com ênfase em notícias do exterior e imagens de agências, que era
veiculado à noite. Foi a experiência no telejornal que deu a ela o
passaporte para a missão que mudaria para sempre a sua trajetória
pessoal e profissional. Numa tarde de 1974, ao chegar em casa, recebeu o
recado para que viesse imediatamente à Globo. Na mesma noite, junto com
o colega Orlando Moreira, cinegrafista fundador da Globo e em atividade
em Nova York há décadas, embarcou para Portugal para cobrir os
desdobramentos da Revolução dos Cravos. Sandra tinha apenas 24 anos e já
era o olhar brasileiro no meio de um acontecimento que chamava a
atenção do mundo.
Com o sucesso daquela cobertura, a
jovem repórter se tornou itinerante no exterior. Passou seis meses sem
endereço fixo, viajando sem parar para onde estivesse a notícia.
Deslocava-se no ritmo dos acontecimentos, aprendendo a fazer jornalismo
na prática. Era repórter, mas também produtora, pauteira e editora.
Frequentava as agências internacionais de notícias e as emissoras locais
para descobrir novidades, revelar o material – ainda feito em filme,
película – e transmitir as matérias para o Brasil. Enquanto isso,
cultivava fontes e formava uma rede de contatos que a acompanharia pelos
anos seguintes. Tomou gosto e conquistou o seu lugar fora do Brasil. A
primeira correspondente da Globo na Europa.
Em novembro do mesmo ano, Sandra se
fixou em Londres e dali correu o mundo. Em 1975, cobriu a morte do
ditador espanhol Francisco Franco; em 1976, acompanhou a visita de
Geisel a Londres; sua cobertura do nascimento do primeiro bebê de
proveta em 1978 é antológica; cobriu, em 1979, viagens do Papa João
Paulo II à Irlanda e Turquia, menos de um ano depois da entronização
dele como líder dos católicos; cobriu atentados do grupo terrorista IRA
na Inglaterra e testemunhou aproximações diplomáticas entre Israel e
Egito; visitou um campo de refugiados cambojanos na Tailândia. E muitas
outras coberturas que marcaram época.
Depois de oito anos correndo a Europa e
o mundo, Sandra fez um breve intervalo na sua história com a Globo:
entre 1982 e 1985 trabalhou para o serviço brasileiro de notícias da
BBC, colaborou com TVs da Alemanha e Finlândia e passou um ano como
correspondente internacional da TV Manchete. Ela me contou que com isso
conseguiu, finalmente, cursar a sonhada faculdade de Ciências Sociais,
agora na Polytechnic of Central London. Fez amizades que a acompanham
até hoje.
Com a formatura, Sandra sentiu que
fechava um ciclo na Europa e era hora de voltar ao Brasil. “Começar”,
praticamente, uma carreira aqui, embora já consagrada como repórter.
Convidada pela Globo em 1985, veio integrar a equipe do Globo Repórter,
mergulhando agora na realidade brasileira. Viajou o país todo e fez
programas históricos, como aquele que foi o primeiro a abordar a Aids no
Brasil. Outro a marcou intensamente. Foi sobre o Juqueri, o maior
complexo psiquiátrico do Brasil, de triste memória. Um acervo histórico
de maus tratos e falta de humanidade, que começava a passar por alguma
modernização. Uma senhora cega, que não era doente mental, e sim uma
interna social, que não tinha onde morar e foi parar lá, fez uma poesia
para Sandra. O abraço das duas encerrou o programa. Sandra nunca se
esqueceu daquele momento.
Na década de 1990, no Bom Dia Brasil,
apresentou o quadro Abra o Olho, dedicado a defender os direitos dos
cidadãos e consumidores. Em 2001, tornou-se editora-chefe do programa
Espaço Aberto, da GloboNews, sua primeira experiência na TV fechada. Foi
ali que a encontrei quando cheguei à Globo. Eu acompanhei como
espectador a carreira de Sandra como correspondente e fui certamente um
de muitos jornalistas que a tinham como modelo. Mesmo quando eu ainda
não pensava em ser jornalista, eu admirava o trabalho dela: a firmeza, a
seriedade, a correção, tudo junto nela resultava e ainda resulta num
tremendo carisma. Quando visitei a Globo News nos meus primeiros dias na
Globo e fui apresentado a ela, tive aquela sensação do admirador que
está diante de alguém muito importante. E estava. Tímido, não disse a
ela na época, nem disse a ela em nossas conversas esses anos todos. Mas
conto agora por escrito. Ao sair daquele breve encontro, eu sugeri ao
Schroder, então diretor de jornalismo: por que não convidar a Sandra
para voltar ao vídeo? Ele adorou a ideia e ela, também. E a TV ganhou de
volta a grande repórter que Sandra é (trouxemos também de volta à
reportagem a saudosa Sandra Moreyra, então também editora da News). Dali
em diante, participou de inúmeras grandes coberturas (integrou a equipe
destacada em 2010 para cobrir a ocupação do Complexo do Alemão e da
Vila Cruzeiro pelas forças de segurança do Rio, cobertura que rendeu ao
Jornal Nacional o primeiro Prêmio Emmy do jornalismo brasileiro).
Consagrada pelos documentários do Globo
Repórter e também pelas coberturas factuais, Sandra optou por se
dedicar ao mergulho em determinados temas, fazendo séries especiais que
renderam prêmios e grande repercussão. Assim foi com as quatro
reportagens sobre pesquisas brasileiras com células-tronco; com a série
de 2015 feita para o JN sobre testes humanos, mostrando como voluntários
podem ajudar no desenvolvimento de vacinas no Brasil; com a série
Inovação, também para o JN, onde ela trouxe à tona iniciativas pioneiras
em tecnologia no Brasil. Nesses trabalhos, voltou a atuar como naqueles
primeiros e difíceis anos na Inglaterra. Antes por necessidade, agora
por prazer, participava da ideia, da produção, da realização e da edição
de VT.
Em 2015, na série 50 anos de Jornalismo
da Globo, assim como no livro Correspondentes, organizado pelo Memória
Globo em 2018, Sandra lembrou algumas das inúmeras e fantásticas
histórias que protagonizou em quatro décadas de jornalismo. Um presente
para o público e um orgulho para todos nós. Afinal, não consta dos
dicionários mas bem poderia: Sandra Passarinho – sinônimo, REPÓRTER.
Nesse ano em que se completam 50 anos
desde que entrou na Globo como estagiária aos 19, Sandra me procurou
para dizer que decidiu deixar o jornalismo diário. Notem, não deixará o
jornalismo, mas terá um outro ritmo. Um dos amigos que fez em Londres,
na Polytechnic of Central London, a convidou para participar de um
projeto pioneiro. E sem a necessidade de se mudar para Londres. Sandra
está namorando a ideia de dar a sua colaboração num projeto digital,
tudo ainda muito embrionário. O que a cativa é continuar de alguma forma
a buscar outras formas de contar histórias. Como ela me disse, o que
somos nós jornalistas senão “historiadores” do nosso tempo? Sandra
Passarinho fez História na TV. Nessa mensagem, eu tentei apenas contar
uma pequena fração da magnífica história que ela escreveu até aqui.
História que ela continuará a escrever.
Eu então quero agradecer à Sandra pela
imensurável contribuição que ela deu ao jornalismo da Globo e ao
jornalismo brasileiro. E por ter inspirado tantos e tantos
profissionais. Entre eles eu, que sempre parei quando via uma reportagem
dela no ar. Desde a década de 1970.
Sandra, obrigado por tudo, de coração. Um beijo, com admiração,
Ali Kamel”Com informações,Bastidores da Tv
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