SEM TELEVISIONAMENTO DE JOGO GLOBO E PALMEIRAS PERDEM DINHEIRO


Um jogo sem transmissão de televisão significa que uma emissora não exibiu o produto e lucrou com este, o clube não arrecadou dinheiro com sua venda e a torcida como consumidora não pôde assistir à partida. Foi o que ocorreu no CSA x Palmeiras no Brasileiro, primeiro em muito tempo sem passar na telinha.

Não se discute aqui a justiça dos pleitos do Palmeiras junto à TV Globo, nem os argumentos da emissora para negá-los. Cada lado tem o seu direito de enxergar o que é melhor para si e cobrar isso em negociações, seja na parte que paga quanto na parte que recebe. Se ao final o clube alviverde entender que a proposta não atende o que vale, é natural que recuse. O mesmo vale para a emissora.

Ressalte-se que o Palmeiras tem uma gestão bastante profissional que baseia suas demandas em números, não em politicagem. E o mesmo pode ser dito da Globo.

A questão é que o fracasso das negociações, enquanto persistir, causa perdas financeiras para os dois lados.  O Palmeiras deixará na mesa algo entre R$ 10 e 15 milhões fixos no Brasileiro pela TV Aberta, mais montantes por posições e exibição que representam 60% do contrato. No pay-per-view, calculando pelo percentual de sua torcida nas últimas pesquisas, seriam mais R$ 36 milhões por baixo. Isso fora luvas.

No caso da Globo, a perda não dá para calcular, porém é bastante grande. O Procon já questiona o pacote das operadoras de ppv, exigindo descontos, o que terá impacto no total arrecadado. Isso para não falar da debandada de torcedores palmeirenses que provavelmente vão desistir se o quadro não mudar e as duas partes fecharem. Na TV Aberta, vai gerar questionamentos de anunciantes caso a empresa não tenha um jogo decisivo.

E assim chegamos ao ponto desta coluna: essa perda de dinheiro tem mais a ver com o modelo de negociação de direitos de transmissão no Brasil do que em culpa de Palmeiras ou Globo. Essa fórmula individual de negociações de direitos, combinada com a legislação brasileira, é fadada a gerar impasses. Porque cada negociação individual vai provocar uma demanda única, em vez de uma regra geral.

Pela lei, cada clube tem direito a metade de um jogo, o que impossibilita que ele simplesmente decida fazer o que quiser com seus jogos em casa, como ocorre no México. Ao mesmo tempo, os clubes, desde 2011, se mostraram incapazes de se reunir para negociar coletivamente seus contratos, o que ocorre na maior parte das ligas do mundo.

Por que isso se acontece desta forma? A CBF desde 1987 boicota qualquer tipo de união dos clubes. O Clube dos 13 negociou os contratos por anos, mas foi implodido por ação do então presidente da CBF Ricardo Teixeira aliado a alguns dirigentes de agremiações. E a mesma entidade lutou com todas as forças contra a formação de uma liga dos clubes que iria, de fato, gerir o Brasileiro como ocorre nos lugares mais avançados do mundo.

Isso enfraquece o Brasileiro a ponto de deixar um naco dele sem ser vendido como é o caso dos jogos do Palmeiras em TV Aberta e ppv, e do Athletico em ppv. Outro naco sem ser vendido são os direitos internacionais do Brasileiro que os clubes permitiram que a CBF entrasse no meio da negociação. Resultado: nove meses de conversas, duas concorrências, contratos assinados, sem que se chegasse a um acordo que remunerasse os clubes. São duas faces da mesma moeda.

Só não veremos mais os clubes brasileiros jogando dinheiro fora quando eles assumirem plenamente a gestão das suas propriedades de forma coletiva e sem interferências externas de quem nada teria a ver com o negócio.

UOL

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