O prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), fez críticas pesadas à Globo em meio a uma entrevista coletiva improvisada, nesta quinta-feira (11). Incomodado com os questionamentos da repórter Larissa Schmidt, de que a cidade está parada à espera de medidas governamentais, o prefeito negou e, após ameaçar interromper a conversa, acusou a emissora de ser contra a cidade.
"É impressionante como a Rede Globo faz campanha contra o Rio. Não é contra mim, não. A cidade não está parada", disse. E repetiu: "É impressionante como vocês fazem oposição não a mim, mas ao Rio de Janeiro. É por isso que o presidente Bolsonaro já não dá mais entrevistas a vocês. E vários políticos também pensam assim".
Repetindo a mesma ideia pela terceira vez, acrescentou: "É impressionante como a Rede Globo de Televisão é absolutamente contra a cidade do Rio de Janeiro. É a televisão que anuncia o tempo todo os problemas do Rio, que faz drama sobre coisas corriqueiras, que acontecem na nossa vida desde que eu nasci aqui."
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Foi neste momento, quando Larissa Schmidt quis saber se Crivella considerava "corriqueiro" o que ocorreu na cidade, que o prefeito afastou a repórter com um braço, dizendo que tinha o direito de não falar com ela.
O prefeito, então, se justificou: "A cidade do Rio de Janeiro, desde a minha infância, sofre problemas no trânsito. Esses, eu disse, são corriqueiros. São problemas que a gente enfrenta porque temos dificuldades com a nossa topografia. Nós somos uma cidade com muitas montanhas, muitos túneis, vias estreitas. E temos, sim, problemas com trânsito. É claro que os desabamentos procuramos evitar, mas nem sempre conseguimos. Lamentamos profundamente nossas tragédias".
E voltou atacar a Globo pesadamente: "Agora, é preciso aprender com elas (as tragédias) e não fazer campanha política. Não fazer exploração. O que a Globo quer é dinheiro na sua propaganda. O que ela quer é que a gente faça uma festa no Carnaval e ela possa vender R$ 240 milhões com a Prefeitura pagando todo o Carnaval. Isso está errado. Então o que elas fazem é chantagem. É chantagem! E isso não tem nada a ver com o interesse da cidade. E seguramente não vão colocar isso no ar".
Globo responde
O "Jornal Nacional" exibiu trechos das críticas de Crivella e leu uma nota oficial da Globo:
"A Globo repudia a atitude do prefeito Marcelo Crivella de afastar a repórter Larissa Schmidt dos jornalistas que cumpriam a obrigação de entrevistá-lo.
A Globo também repudia a afirmação de Crivella de que a emissora fez drama com coisas corriqueiras na cobertura jornalística do temporal de segunda-feira.
A Globo cobriu uma tragédia que tirou a vida de dez cariocas. E cumpriu a obrigação jornalística de mostrar que a prefeitura demorou a acudir a população. Um fato reconhecido pelo próprio prefeito, num momento raro de autocrítica.
A Globo lamenta também as declarações descabidas de Marcelo Crivella quanto ao Carnaval.
A Globo compra os direitos de transmissão das escolas de samba – e paga um valor quase seis vezes maior do que aquele que elas recebem de subvenção da prefeitura.
A Globo se solidariza com a repórter Larissa Schmidt e, mais uma vez, com os cariocas. Em especial, com as famílias dos mortos na tragédia."
Outras reações
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro "lamentou a atitude do prefeito" em nota:
"Cabe a toda e qualquer autoridade atender aos questionamentos da imprensa, que visa esclarecer à população sobre as medidas do poder público. Eventuais atitudes que cerceiem o trabalho das equipes de reportagem comprometem o direito de a população avaliar o trabalho da administração municipal, tanto no que diz respeito aos aspectos positivos, quanto aos negativos.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro se solidariza com todos os profissionais de imprensa presentes à entrevista coletiva, que se viram prejudicados com a suspensão repentina da prestação de contas à população carioca, por parte do prefeito Marcelo Crivella."
UOL
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