Clubes vão receber menos no começo do ano e mais no fim, o que influi no fluxo de caixa da próxima temporada
Entra em vigor na próxima temporada a nova distribuição de cotas de transmissão de TV: será R$ 1,1 bilhão para dividir entre os clubes. Os valores do acordo com Globo e Turner (Esporte Interativo), além de uma cota fixa, levarão em consideração o número de jogos transmitidos e o desempenho em campo, com uma menor concentração de verba nos primeiros quatro meses.
A fatia da grana será maior em maio, quando começa o Campeonato Brasileiro. É por isso que os clubes precisam administrar bem as contas do início do ano para não serem obrigados a pegar empréstimo ou antecipar receitas. Atlético e Cruzeiro se dizem cientes da mudança. “Isso mexe com o fluxo de caixa de muitos clubes. Vamos ter muita dificuldade no início do ano. Por isso, estamos procurando alternativas de fontes de recursos”, avisou o presidente da Raposa, Wagner Pires de Sá.
A Globo pagará 40% do montante do ano divididos igualitariamente (R$ 22 milhões por clube), com recebimento de 75% do valor entre janeiro e junho e 25% entre julho e dezembro, mensalmente. A parcela de audiência (30%) será paga entre maio e dezembro. Por fim, os 30% referentes ao desempenho do time serão pagos em dezembro. A Turner usa fórmula parecida, com uma divisão de 50%, 25% e 25%.
Presidente atleticano, Sérgio Sette Câmara acredita que é possível tirar proveito da parte relativa à exibição, desde que o time tenha um bom desempenho. Antes da mudança, Flamengo e Corinthians, as equipes mais populares do país, tinham mais partidas transmitidas. Mas agora, se uma outra equipe se destacar, a televisão pode decidir mostrar mais jogos desse clube. “A exibição, se vai ter mais ou menos (jogos transmitidos), é subjetiva, depende da própria TV. A gente espera que a decisão seja tomada de acordo com o desempenho”, analisou o dirigente.
Impactos. Estudo da Ernst & Young, em parceria com a Grafietti, Cesar Finance & Mgmt Consulting, aponta que o impacto da nova cota de TV no fluxo de caixa dos clubes poderá causar problemas sérios no início do ano.
“O mínimo é fazer um planejamento financeiro para o ano que vem. Só assim vão conseguir honrar compromissos”, disse Pedro Daniel, gerente sênior de consultoria ao mercado esportivo da EY. “Quem se antecipou e planejou terá vantagem competitiva interessante no primeiro semestre”, avaliou. Os clubes que tentarem empréstimos podem tomar um não. “Não será mais possível usar o contrato (de TV) como garantia porque você não sabe o valor final dele”, ressaltou Pedro Daniel.
Antes. Até 2018, o Grupo Globo detinha os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro. No modelo que se encerra, os clubes negociavam os valores de TV aberta e fechada com a emissora carioca, e a grana do pay-per-view (PPV) ficava dividida de acordo com pesquisa de audiência.
Depois. Com a entrada da Turner para a TV fechada, as cotas precisaram ser negociadas separadamente (TV fechada e aberta), assim como o PPV, as placas de publicidade estática no entorno do gramado e os direitos internacionais do Brasileirão (os dois últimos são novidades, que ajudarão a injetar mais dinheiro nos clubes).
Montante. Só a TV fechada e a TV aberta devem pagar algo em torno de R$ 1,1 bilhão (Globo e Turner), de acordo com o estudo. Só o PPV tem R$ 650 milhões a distribuir. É nesse quesito que times populares, como Flamengo, Corinthians, São Paulo e Palmeiras podem levar a melhor e devem abocanhar 18,5% do bolo. A pesquisa do PPV para definir quantos torcedores de cada equipe compraram os pacotes se dará em todas as cidades – antes, era só nas capitais.
Mineiros e Gaúchos. Segundo projeção da Ernst & Young, Atlético, Cruzeiro e os gaúchos Internacional e Grêmio ganhariam, em caso de título brasileiro, menos em 2019 do que em 2018, caindo de R$ 108 milhões para R$ 100 milhões. Isso se explica, justamente, porque os times mais populares abocanhariam mais grana no PPV.
Rebaixamento. Com a proposta de cota, a chamada cláusula paraquedas, que mantinha os valores da TV por um ano mesmo sendo rebaixado para a Série B, não existe mais.
O TEMPO
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