Com programas em grande fase, Record TV causa dores de cabeça à Globo


“Video Show”, “Malhação Vidas Brasileiras” e “Amor e Sexo” são os maiores prejudicados

De gêneros diferentes, “Video Show” e “Malhação” carregam marcas longevas na televisão brasileira. Há 35 anos, o primeiro se dedica a mostrar um olhar mais para dentro dos bastidores da Globo e de suas produções, convidando o público a mergulhar dentro delas. Já a trama adolescente, há 23 anos, se destaca pela formação e lapidação de jovens talentos que aos poucos vão galgando espaço nos horários mais nobres da teledramaturgia. E, mais recentemente, o “Amor e Sexo” trouxe leveza ao tratar de relacionamentos e liberdade sexual na faixa noturna. No entanto, os três programas vivem uma fase problemática em suas temporadas atuais, chegando a ficar em segundo (ou até mesmo terceiro) lugar no Ibope e fazendo a festa da rival Record TV.

Não é de hoje o momento inconstante que atravessa o "Video Show". A saída precoce de Mônica Iozzi, que formava uma divertida dupla com Otaviano Costa, desestabilizou o formato, recorrendo a um rodízio de variados apresentadores (até mesmo a veterana Susana Vieira chegou a participar) e, mais recentemente, à entrada de três ex-BBBs (Vivian Amorim, Fernanda Keulla e Ana Clara Lima) e da atriz Sophia Abrahão, bem como do humorista Márvio Lúcio “Carioca” (ex-“Pânico”) e do influencer Matheus Mazzafera. As medidas não surtiram efeito e desde então o programa sofre com constantes derrotas para a “Hora da Venenosa”, quadro de fofocas comandado por Fabíola Reipert no “Balanço Geral” de São Paulo.


E não é difícil entender os motivos, a começar pela própria artificialidade das apresentadoras. Sophia, Ana Clara e Fernanda estão claramente perdidas na condução do programa e, por vezes, não é raro que os entrevistados – em especial no ótimo quadro “Meu Vídeo é Um Show” – consigam se sair melhor que as mesmas. Vivian ainda demonstra um melhor traquejo, como se viu durante sua atuação como repórter do “BBB 18”, mas não faz milagre sozinha. E os quadros atuais – com exceção do “Meu Vídeo...” e do excelente “Memória Nacional” –têm pouco ou nada a acrescentar, perdendo relevância diante das fofocas de Fabíola ou mesmo da trupe de Léo Dias no "Fofocalizando", do SBT.

Já a atual temporada de “Malhação” é um erro em todos os sentidos. Assinada por Patrícia Moretzsohn, “Vidas Brasileiras” chamou atenção por ser focada em uma protagonista adulta, a professora Gabriela (Camila Morgado), e por seu formado adaptado da série canadense 30 Vies, com quatro indicações ao Emmy. No entanto, a história conseguiu simplesmente retroceder em tudo o que a antecessora, a aclamada "Viva a Diferença", de Cao Hamburger, contribuiu para aproximar o formato da realidade dos jovens, uma crítica que há muito se fazia à produção jovem.

Cada jovem tem uma quinzena onde a professora atua como mediadora do conflito principal pelo qual ele passa. Estes assuntos, porém, se resolvem com uma impressionante artificialidade e se resolvem do nada. Até mesmo temas densos como bulimia não escapam da condução rasa da autora. Para piorar, o elenco jovem, que é justamente um dos pontos fortes mesmo em outras histórias fracassadas, desta vez tem apenas um nome promissor: Joana Borges, que interpreta a ginasta Verena, e que ainda assim não tem seu talento aproveitado.


Este problemático conjunto fez com que a média geral da atual "Malhação" perdesse quatro pontos em relação a "Viva a Diferença", prejudicando a audiência de “Orgulho e Paixão”, novela anterior das seis, que sempre apresentava elevações consideráveis e, por isto, se mantinha na meta exigida para o horário (20 pontos). Para piorar, "Vidas Brasileiras" tem sido derrotada pelo “Cidade Alerta”, que aposta cada vez mais no jornalismo “mundo cão”, como nos primeiros tempos de Ratinho, Datena e do próprio “Alerta”, explorando crimes fortes com seu conhecido sensacionalismo. As derrotas para o jornalístico prejudicam até mesmo “Espelho da Vida”, atual novela das seis, que sofre com a baixa entrega de Malhação, além de deméritos próprios como a lentidão de seu enredo.

Por fim, o “Amor e Sexo” chegou à sua décima primeira temporada em um momento conturbado do cenário político brasileiro. Desde a edição passada, o programa comandado por Fernanda Lima vem reduzindo as brincadeiras e dando um maior espaço para discussões em torno de temas progressistas como feminismo, machismo, homofobia, racismo e liberdade sexual. Ainda assim, o programa também sofre nas mãos da Record TV, perdendo para atual edição de "A Fazenda".

É comum pensar que estas derrotas sejam creditadas à reação conservadora que o país vive, em especial após a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) como novo presidente. No entanto, esta crise passa por deméritos do próprio programa e méritos da concorrência. As discussões, embora válidas e pertinentes, chegam a beirar um tom didático muito cansativo para o horário, e que seriam mais adequadas em matinais como o “Como Será”. Além do mais, o reality rural acertou em cheio ao trazer Marcos Mion como seu novo apresentador. Seu carisma e informalidade apagam por completo as engessadas passagens de Britto Jr. e Roberto Justus.


“A Fazenda” também faz estragos às quintas-feiras, vencendo o game show “Os Melhores Anos das Nossas Vidas”, uma bem-intencionada disputa de gerações comandada por Lázaro Ramos, jogada em um horário totalmente ingrato e inadequado a um estilo mais familiar, ainda mais vindo após a pesada série “Carcereiros”. E, na própria Record TV, a estreia da atual temporada evidencia o erro de estrear, ao mesmo tempo, uma quarta temporada do elogiado “Dancing Brasil”. O programa de dança comandado por Xuxa Meneghel parece estar no ar apenas para preencher espaço, já que a “Fazenda” roubou todas as atenções para si.

Seria exagero dizer por aqui que a Globo vive a sua pior fase de audiência. Mas não se pode negar que “Video Show”, “Malhação Vidas Brasileiras” e “Amor e Sexo” têm sido grandes complicadores para o ibope. No caso do vespertino diário e do programa de Fernanda Lima, uma reformulação geral desde o princípio, buscando resgatar as essências de ambos e serem fieis a suas propostas, seria mais que bem-vinda, para evitar que os mesmos corram risco de acabar de vez. Quanto à trama de Patrícia Moretzsohn, infelizmente, o cenário não é nada animador. Resta apenas esperar a próxima temporada, assinada por Emanuel Jacobina. Enquanto isto não acontecer, a Record TV agradece.

NA TELINHA


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