Produção para TV, rádio e vídeos consome cerca de R$ 70 milhões das campanhas à Presidência


Dados das prestações de contas dos candidatos à Presidência mostram que a produção de conteúdo para televisão, rádio e vídeos consome mais da metade do dinheiro já gasto nas campanhas para o cargo. Os 13 cabeças de chapa (inclusive Lula, antes de ser declarado inelegível) despenderam R$ 67,9 milhões com propagandas do tipo - mais de 40% do que foi arrecadado. Um levantamento do GLOBO indica que os gastos com a produção desses materiais e programas consumiu 54,9% das despesas contratadas nos primeiros 20 dias do horário eleitoral gratuito.

O percentual gasto com tais produções corresponde ainda a 43,85% de todo o montante arrecadado pelas campanhas à Presidência. As 13 chapas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) juntaram R$ 154,9 milhões para a disputa e, até a prestação de contas atualizada em 17 de setembro, contrataram serviços diversos no valor de R$ 123 milhões. Deste total, R$ 67,9 milhões foram revertidos à produção do horário eleitoral, reconhecido há anos como a principal forma de se atingir o eleitorado, sobretudo aquele residente nos rincões do país.

Naturalmente, os postulantes ao Planalto que mais dispõem de tempo no programa eleitoral de televisão e rádio são também quem mais gastam. É a despesa principal de oito dos 13 cabeças de chapa. O investimento no conteúdo midiático supera os gastos de transporte, publicidade impressa, adesivos e impulsionamento de conteúdos nas redes sociais - novidade nesta eleição, entre outros.

MÃO NO BOLSO, OLHO NA TELA

Em valores absolutos, quem mais investiu neste tipo de propaganda foi Henrique Meirelles, R$ 24,7 milhões. Isso representa 54,89% do que tirou do próprio bolso para financiar a campanha. Tais gastos correspondem ainda a 57% de tudo o que contratou até aqui. Os dispêndios do emedebista ultrapassam um terço de tudo o que já foi contratado pelos presidenciáveis (34,99%). O investimento em seu 1 minuto e 55 segundos de TV e rádio, pelo menos por enquanto, não se traduziu em votos: o ex-ministro da Fazenda tem apenas 2% das intenções, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira.

O levantamento levou em conta os gastos de campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que prestou contas à Justiça Eleitoral do período em que ainda não havia tido o registro negado. O petista foi barrado da disputa pela Lei da Ficha Limpa, em função da condenação em segunda instância na Operação Lava-Jato, e acabou substituído por Fernando Haddad (PT), que ainda não apresentou demonstrações financeiras. As produções foram as apostas do partido para colar o nome do ex-prefeito ao do ex-presidente e apresentá-lo aos cantos do país.

Antes de ser barrado, Lula gastou R$ 17,8 milhões com a produção dos programas eleitorais, o que representa 86,8% do que arrecadou e 67,9% das despesas que contratou. Ele tinha 2 minutos e 23 segundos de TV e rádio. O petista fez compromissos superiores ao dinheiro que tinha disponível: conseguiu financiamento de R$ 20,5 milhões e contratou despesas no valor de R$ 26,2 milhões. Resolução do TSE permite que o partido quite quaisquer dívidas, caso as campanhas não o façam.

Com arrecadação de R$ 46 milhões, a maior entre os presidenciáveis (29,6% do total arrecadado pelos 13 cabeças de chapa), e 5 minutos e 32 segundos na TV e no rádio, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) contratou R$ 15,2 milhões em produção de programas de televisão, rádio e vídeos. Isso significa 49% de suas despesas contratadas. As plataformas de massa são a principal aposta do tucano para ir ao segundo turno, mas ainda não surtiram efeito: Alckmin não passou de um dígito nas pesquisas eleitorais e vê a corrida se afunilar entre Jair Bolsonaro (PSL), Haddad e Ciro Gomes (PDT).

MENOS DE 1 MINUTO

Jair Bolsonaro (PSL) lidera as sondagens de voto mesmo com oito segundos no horário eleitoral e sem fazer campanha nas ruas desde 6 de setembro, quando foi atacado a faca em Minas Gerais. O atentado levou o nome e a candidatura do deputado à grande exposição midiática. O candidato arrecadou R$ 897 mil, mas já contratou despesas no valor de R$ 985 mil. Deste montante, R$ 240 mil foram investidos em produção de conteúdo - mais de um quarto do que tem à disposição para a campanha (26,76%) e 24,37% de tudo o que contratou.

Ciro reverteu à produção de televisão, rádio e vídeos 27% dos seus gastos (R$ 2,25 milhões). Com 38 segundos nas plataformas de massa, o pedetista gastou ainda mais com publicidade via materiais impressos (29%). Com 21 segundos, Marina Silva (Rede) usou mais da metade de suas contratações para esta modalidade de propaganda (54,29%) ao contratar as produções no valor de R$ 1,9 milhão. Já Alvaro Dias (Podemos), com 21 segundos, destacou R$ 4,4 milhões para isso - 84,6% do que arrecadou e 79,4% de tudo o que gastou até aqui. Ele também contratou mais do que tinha à disposição, com diferença de R$ 340 mil.

Dois candidatos à Presidência resolveram não investir em televisão, rádio e vídeos. Cabo Daciolo (Patriota) só contratou R$ 738 até este ponto da campanha. Todo o dinheiro foi revertido à taxa de administração de seu financiamento coletivo. João Amoêdo (Novo) contratou despesas no valor de R$ 887 mil, mas preferiu apostar em impulsionamento de conteúdos nas redes (30% dos gastos) e em publicidade via materiais impressos (24%). Ele prometeu acabar com o horário eleitoral gratuito de TV e rádio, caso seja eleito.

O GLOBO

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