Canal Brasil completa 20 anos de história e se firma como espaço do cinema, da música e da diversidade nacional
Malabarismos automobilísticos e consultas de ocultismo. Foi assim que o Canal Brasil “começou”, há 20 anos, num dia 18 de setembro de 1998. A descrição corresponde à sinopse do primeiro filme exibido pela emissora. “Sonho Sem Fim”, dirigido por Lauro Escorel, não por acaso contava a história de um dos precursores do audiovisual no país: o gaúcho Eduardo Abelim, que, para conseguir produzir seus filmes, subia em veículos em movimento e jogava cartas para adivinhar o futuro. Como o protagonista, a trajetória do Canal Brasil também se firmou nesses três pilares: pioneirismo, resiliência e coragem.
“O canal teve, desde sua origem, a determinação de ser uma janela do cinema brasileiro e, à medida em que veio se consolidando nesse desafio, se tornou também um importante personagem na história do nosso cinema”, constata Paulo Mendonça, cofundador que, em 2004, assumiu a cadeira de diretor-geral. Criado para cumprir o Decreto 2006 de 1997, que obrigava os prestadores de serviço de TV a cabo a incluir na grade pelo menos um canal dedicado a obras cinematográficas e audiovisuais brasileiras de produção independente, “a casa do cinema brasileiro” em pouco tempo transformou o slogan em realidade.
“A lógica do capitalismo de resultado é terrível, e isso invadiu nossa cultura de forma assustadora. É difícil manter um veículo como o Canal Brasil, ele é um lugar de resistência da produção brasileira”, afirma Charles Gavin, que há 12 temporadas apresenta o programa “O Som do Vinil” no canal. Os números não deixam mentir. Além de estimular a produção, o espaço na tela se tornou palco da recuperação de cerca de 500 títulos. Sucessos do porte de “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976), “Xica da Silva” (1976), “Pixote, a Lei do Mais Fraco” (1980), “Pra Frente, Brasil” (1982) e outros puderam ser vistos por toda uma nova geração.
A pornochanchada, período que mais levou gente aos cinemas no país, ganhou uma sessão especial, intitulada “Como Era Gostoso”, assim como os documentários, no “É Tudo Verdade”, as animações, com o “Anima Mundi”, e os curta-metragens, com o “Curta na Tela”. Já o “Cone Sul” mostra apenas filmes sul-americanos. Para completar, os cineastas Luiz Carlos Barreto, Zelito Vianna, Roberto Farias e os demais sócios da emissora passaram a investir em coproduções. “João, o Maestro” (de Mauro Lima), “Divinas Divas” (de Leandra Leal) e “Boi Neon” (de Gabriel Mascaro) foram alguns dos mais de 300 filmes que surgiram assim.
Em 2008, veio à luz o primeiro longa inteiramente produzido pelo canal. “Lóki, Arnaldo Baptista”, sobre a trajetória do ex-Mutantes, logo abocanhou os prêmios de melhor documentário nos júris populares do Festival do Rio e da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Diretor do longa, Paulo Henrique Fontenelle foi um dos primeiros funcionários do canal. “Quando começamos, era uma salinha com cinco funcionários que ficava no subsolo, perto do almoxarifado”, conta Fontenelle, que, em 2013, lançou “Dossiê Jango”, também com coprodução do canal.
Essência ligada às artes em geral
A vocação para incentivar novos autores vem desde o começo. Tanto que no ano de sua inauguração o canal criou o Prêmio Canal Brasil de Curtas. Contratada em 2003, desde então Simone Zuccolotto apresenta o “Cinejornal”. “Acho que a essência do canal permanece, de ser um meio de comunicação livre e libertário, que congrega opiniões diversas”, destaca. Michel Melamed, cujo último projeto na emissora foi o “Bipolar Show”, concorda. “É um canal ousado, que te dá asas, porque os executivos ali são artistas. Trabalhamos com as antenas dos poetas no lugar da previsão do consumidor”, afiança Melamed.
Com o passar do tempo, o canal abraçou outras manifestações artísticas, como música, literatura, teatro e artes plásticas. Até o comentarista esportivo José Trajano chegou lá, com o “Bonde do Zé”. “A gente tem muitos canais que não acrescentam nada, o Canal Brasil é um oásis”, enaltece Trajano.
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