Para Saddy, o maior ganho do canal é ter efetivado a aproximação do cinema com a televisão. "Hoje, isso parece pouca coisa. Mas há 20 anos, quando criamos o Canal Brasil, isso era um sonho, uma utopia", diz. "Construímos uma trajetória a ser celebrada especialmente nesse ponto. De 2008 pra cá, quando fizemos nossa primeira coprodução de longa-metragem ('Lóki – Arnaldo Baptista'), já foram 306 filmes e os resultados são cada vez mais positivos. Neste ano, tivemos produções em Sundance, Berlim, Cannes e Veneza, onde os três filmes brasileiros eram coproduções nossas", comemora. Entre os longas mais recentes coproduzidos na casa estão "10 Segundos Para Vencer", de José Alvarenga Jr, cinebiografia do bicampeão mundial de boxe Eder Jofre; o drama familiar "Benzinho", de Gustavo Pizzi; "Ferrugem", de Aly Muritiba; "Divinas Divas", de Leandra Leal; "Não Devore o Meu Coração", de Felipe Bragança; "Pendular", de Julia Murat; "Aos Teus Olhos", de Carolina Jabor; "Cinema Novo", de Eryk Rocha; "Animal Cordial", de Gabriela Amaral Almeida; e "Gabriel e a Montanha", de Felipe Gamarano Barbosa.
O executivo avalia com otimismo o cinema nacional dos últimos anos. "Especialmente no universo do cinema independente, a produção deu um salto de qualidade imenso. Hoje, temos uma presença nos festivais internacionais que não tínhamos dez anos atrás. É uma pena que, internamente, essas obras ainda tenham dificuldade de ocupação de mercado. Mas acho que a gente ajuda nesse sentido. Filmes que não levam as pessoas ao cinema podem ser assistidos no nosso VOD, por exemplo. É claro que o ideal seria que eles vendessem mais no cinema, mas, não sendo assim, seguimos o caminho que podemos. Documentário, por exemplo, é um produto incrível para o VOD", reflete. Para ele, a máxima que diz que "quem tem conteúdo vai sobreviver no mercado" não é verdadeira. "É claro que conteúdo é importante, mas precisa saber como se tornar relevante e levar esse produto ao seu público.", explica.
Seriados
Apesar de ter nascido como um canal do cinema brasileiro e ter até hoje a coprodução de longas-metragens nacionais como uma das principais áreas de atuação, o Canal Brasil se aproxima cada vez mais das produções seriadas. "Nos nossos próximos planos há um investimento pesado em séries. Acho que, de maneira geral, ainda estamos engatinhando nesse formato no Brasil, há muita coisa a se fazer. Não temos investimento próprio – todas os nossos projetos são fruto de associações com produtoras que levantam os recursos no Fundo Setorial do Audiovisual", conta Saddy. "No momento, temos 25 séries de ficção contratadas, em diferentes estágios de desenvolvimento, além de outras dez documentais", revela. O diretor afirma ainda que é do interesse do canal trabalhar efetivamente nessas produções, avaliando os roteiros de maneira substancial e investindo na troca com os produtores em prol de alcançar os melhores resultados. Nesta semana, o canal estreou a inédita "Lama dos Dias", série ambientada no Recife dos anos 90. Além dela, entre as produções mais recentes estão "Amor de 4", que envolve quatro personagens num jogo de sedução; e a série de animação "Angeli The Killer", baseada nos personagens do cartunista Angeli, que concorreu na categoria TV Films com o episódio "Delírios de um Amor Louco" no Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy. "Ainda este ano, teremos a estreia de 'Toda Forma de Amor', dirigida por Bruno Barreto; 'Colônia', dirigida por André Ristum; 'Hit Parade', dirigida por Gustavo Pizzi; 'Notícias Populares', sobre o icônico jornal paulistano; e a série documental 'Clube da Esquina'", lista Saddy.
VOD
Ao longo do anos, o Canal Brasil presenciou uma série de evoluções tecnológicas dentro do mercado da PayTV e também mudanças substanciais nos hábitos de consumo do público. E tem se adaptado a esse cenário. "A estratégia de trabalhar lançamentos primeiro no VOD e depois na TV é algo que fazemos já há algum tempo. Hoje, estamos em todas as plataformas e entendemos que elas possuem audiências completamente diferentes. Por exemplo, no nosso YouTube, o que mais gera visualizações são conteúdos de música. Já no Canal Brasil Play, os destaques são os filmes. A vantagem é que temos um acervo que nos possibilita trabalhar com as diferentes características de cada plataforma, atendendo ao que o público de cada uma delas busca", defende Saddy. O diretor entrega ainda que um OTT do Canal Brasil é uma possibilidade para o futuro. "Acho que é só o que falta para nós", brinca. "Não sabemos ainda se isso será feito de forma independente ou por meio de associações. Estamos estudando. Não descartamos ter, inclusive, um modelo de venda direta", completa. Atualmente, a plataforma do canal fica dentro do Globosat Play e permite ao usuário assistir à programação ao vivo, além de disponibilizar séries, longas de ficção, documentais e os principais programas da casa, como "Espelho" e "Amigos, Sons e Palavras".
Remasterização
Trabalhando de forma a valorizar e proteger a produção audiovisual brasileira, o Canal Brasil tem uma importante área de remasterização de obras. "É um trabalho que começou antes do canal nascer. Nosso primeiro acervo, de 250 filmes, foi remasterizado para poder ser lançado assim que a emissora fosse ao ar", relembra o diretor. Ele conta ainda que, se hoje em dia ainda há uma resistência do público frente ao cinema nacional, há 20 anos essa situação era ainda mais grave. Por isso, oferecer ao público a melhor cópia possível dessas obras era prioridade total. Prioridade, esta, que continuou no escopo do Canal Brasil. "Sempre fomos muito rigorosos em termos de qualidade técnica. Acredito que a minha geração assistiu ao crescimento do cinema nacional pelo Canal Brasil, no sentido de formação de plateia e de cineastas também. Por isso esse objetivo de ir atrás da melhor cópia para exibir é tão relevante para nós.", conclui.
Otimismo
Em termos financeiros, o Canal não viu sua receita mudar tanto ao longo de sua trajetória – talvez um pouco, apenas nos últimos anos. A receita principal é de assinaturas, enquanto a publicidade representa uma parcela pequena. "Aos poucos, vemos uma receita de VOD crescer. É uma possível receita nova para a marca", diz Saddy. O executivo fala ainda que é claro que seria ideal ter mais publicidade mas, ao mesmo tempo, a "falta" dela dá mais liberdade para o canal em termos de conteúdo exibido.
Por fim, Saddy avalia o atual momento do Canal de forma positiva e enxerga um futuro otimista pela frente. "Olhando para trás, são dois universos diferentes na produção nacional. O audiovisual brasileiro amadureceu em uma velocidade muito alta e a gente sente isso na prática. Hoje, os projetos que recebemos chegam bastante desenvolvidos, trabalhados, com noções claras de adequação ao canal. É raro receber uma ideia de série que não tenha nada a ver com a gente, coisa que, antigamente, acontecia direto. Se achar projetos competitivos era difícil no passado, hoje a dificuldade é escolher três dentro de quinze, vinte opções ótimas", garante. "Daqui pra frente, a ideia é continuar sendo o canal que representa o cinema brasileiro e que é a porta de entrada da cultura brasileira. E queremos levar esse conteúdo para um público cada vez maior. Enxergo as novas plataformas não com receio, e sim com otimismo. Elas abrem possibilidades de levar o Canal Brasil para mais pessoas. Não dá para ter nosso conteúdo restrito a quem tem TV por assinatura. Por isso o plano é popularizar o canal, no bom sentido, cada vez mais", finaliza André Saddy.
TELA VIVA
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