As pessoas normais escolhem um programa de TV ou um documentário on demand para assistir. E se divertem ou não com a sua escolha. Se não gostam, mudam de canal ou trocam o que escolheram. A partir de agora, ou de logo mais, vão ter outras opções: ao assistir um documentário, por exemplo, vão poder se deter num ponto turístico interessante e buscar saber mais sobre ele. Por simples curiosidade, ou porque começam a planejar uma viagem. Outra possibilidade é querer experimentar o mesmo prato que alguém, que apareceu no vídeo, comeu em um restaurante. Por que não repetir a experiência que lhe pareceu tão prazerosa? E por aí vai. As possibilidades de interação com o que estão assistindo vão ser muito maiores. Graças à inteligência artificial.
A transformação da experiência de assistir TV – e vídeos em geral – é uma das novas possibilidades que logo vai chegar ao mercado, em soluções comerciais, graças ao desenvolvimento da Inteligência Artificial. O relato é do matemático e responsável pelo desenvolvimento de vários algoritmos e metodologias José Luis Flórez, hoje chefe da área de Analíticos Avançados e Inteligência Artificial da Indra Company, uma consultoria multinacional especializada em processos e tecnologias em vários segmentos de mercado. Entre eles, telecomunicações e mídia.
E este pode se transformar num bom negócio para os provedores de conteúdos audiovisuais e empresas de mídia já que dados do Google, de acordo com ele, mostram que as pessoas, que buscam informação a partir das 19 horas, procuram informações relativas ao que estão assistindo na TV ou no vídeo. Perfil do ator ou da atriz, ponto turístico, uma comida típica, e o que mais desperte interesse no espectador.
Flórez, que veio ao Brasil para uma palestra sobre o desenvolvimento da Inteligência Artificial e seu impacto nos negócios para executivos de telecom e mídia, realizada ontem, 7, no espaço Cidad3, em São Paulo, disse que as novas possibilidades de experiência para o telespectador – ou videoespectador – se abrem em função do grande avanço por que passou a IA nos últimos anos. “Hoje, seus recursos permitem transformar audiências em pessoas”, explica.
Isso porque a Inteligência Artificial deixou de ser um campo do conhecimento que se baseia num conhecimento estruturado para apostar, nos últimos cinco anos principalmente, em um modelo aberto, não estruturado. Se antes se partia de uma base de dados delimitada para construir um algoritmo que ia resultar em determinados comportamentos, os quais orientavam a gestão do processo ou o que quer que fosse, hoje se leva em conta um número muito maior de informações que estão em bases não estruturadas. Ou seja, mudaram não só as bases de informação, que se tornaram mais amplas, mas a forma como são representadas. “Mudou a forma de construir o algoritmo”, resume.
Essa mudança de paradigma, diz Flórez, permite não só levar novas experiências para quem assiste TV, como construir novos modelos de negócios, do ponto de vista das empresas. As operadoras, por exemplo, não precisarão mais se limitar aos hábitos de consumo de seu cliente particular. Mas poderão expandir seus horizontes para as comunidades sociais com as quais esse cliente se relaciona, saber quem são os líderes dessas comunidades, como se comportam, como orientam seus liderados.
Há riscos? Flórez já aponta alguns, e destaca o que talvez seja o principal. “Como lidar com essas informações, saber se elas cumprem o respeito aos direitos de não discriminação, por exemplo, já que as bases de dados podem armazenar informações antigas? “, pergunta ele, sem falar no óbvio, a autorização do cidadão para uso dos dados.
Mais inteligência, mais rentabilidade
Com os recursos de Inteligência Artificial, a Indra Company vem trabalhando para tornar seu portfólio de produtos e serviços mais efetivo no mercado de telecom e mídia onde as empresas enfrentam o problema da baixa rentabilidade. Se a previsão, para os próximos quatro anos, é que as empresas de internet (incluindo algumas dedicados ao vídeo, como o Netflix) cresçam além de 50%, para as operadoras de telecom nada mais de 3,4% é esperado. “Nosso trabalho é ajudar a melhorar essa rentabilidade”, diz Ricardo Bonora, chefe da área de telecom e mídia da Indra no Brasil.
Segundo Bonora, a empresa trabalha em quatro vertentes. A primeira delas envolve o engajamento do cliente da operadora, ou seja, a consultoria analisa como andam os canais digitais da telco, o que pode melhorar no seu call center (na modernização das URAs, na introdução de atendentes cognitivos ou no seu aperfeiçoamento, no cadastro do cliente, em sistemas de prevenção à fraude, na implementação de chatboots) e como conhecer melhor o cliente. O segundo conjunto de ferramentas se relaciona à operação do negócio (gestão da infraestrutura, virtualização, adoção de tecnologias como blockchain etc). O terceiro está relacionado a como reduzir custos na operação (manutenção preditiva, eficiência energética, entre várias outras ferramentas). E, por fim, à criação de novos modelos de negócios para gerar receitas, em segmentos como smart home, smart building, smart cities, conteúdo e mídia, segurança cibernética.
No que se refere ao desenvolvimento de novos modelos de negócios, relata Wander Cunha, diretor da Minsait no Brasil, unidade responsável pelo desafio da transformação digital nas empresas, a Indra faz parcerias com terceiros que desenvolvem soluções próprias ou sobre sua plataforma, Sofia 2. E as soluções são levadas às operadoras. “Nós não as comercializamos para o usuário final”, informa.
Tele Síntese
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