Pecegueiro avalia que a Netflix "está produzindo loucamente" para compensar a perda do conteúdo dos grandes estúdios norte-americanos, que estão retirando seus filmes e séries do catálogo da plataforma para lançar serviços próprios de OTTs (sigla para over-the-top), como são chamadas as operações de distribuição por conteúdo online. E, nessa produção "enlouquecida", a qualidade está deixando muito a desejar.
O principal executivo da Globosat aposta que a política da Netflix de altos investimentos em conteúdo e a cobrança de mensalidades baratas não vai se sustentar por muito tempo. Para ele, a empresa já teve "um primeiro soluço" no primeiro semestre deste ano, quando registrou prejuízo de US$ 845 milhões. Seus investidores não resistirão a um "segundo soluço", acredita ele.
"Quando vejo o dinheiro que a Netflix está investindo em conteúdo, em comparação com os grandes estúdios americanos, soa como desaforo. E dinheiro não guarda desaforo", profetiza. A Netflix prevê investir US$ 8 bilhões em produções neste ano.
Pecegueiro aponta uma concorrência predatória da gigante do streaming. "A Netflix tem inúmeras qualidades. Ninguém questiona a tecnologia, a mudança no hábito de consumo. O que a gente questiona desde o começo é que o modelo de precificação era desnecessário", disse no PayTV Forum. Para o diretor-geral da Globosat, a Netflix é "uma destruidora de valores da indústria, pois entrega uma grande quantidade de conteúdo por um preço baixo.
Futuro da TV paga
De uma forma geral, programadoras e operadoras não veem seus negócios ameaçados pelo avanço da Netflix e similares. Elas terão, no entanto, que se ajustar à nova realidade.
Para Marco Dyodi, diretor de marketing da Net, maior operadora de TV paga do país, "a chave está na convergência" entre conectividade com a oferta de conteúdo. Ou seja, a indústria vai continuar robusta porque oferece telefonia, banda larga e TV por assinatura.
Alessandra Pontes, vice-presidente de afiliadas da Discovery, afirma que a "TV tradicional já não existe", porque todos os canais já têm versões online. Ela ressalta que, mesmo com a queda de assinantes (2 milhões nos últimos quatro anos), a audiência dos canais lineares está crescendo.
A questão passa a ser, então, até quando os canais lineares resistirão, face à mudança de hábito do consumidor para o video on-demand. Para Bernardo Winik, diretor-executivo comercial da Oi, a saída é "ir para onde o consumidor quer". "O consumidor fala que ele paga por uma série de conteúdos que não usa. O desafio é: Como a gente sai do empacotamento de canais para a customização?", pergunta.
Michael Pieston, vice-presidente sênior dos canais Fox, tem a resposta. "O empacotamento vai continuar existindo, mas talvez seja um outro empacotamento. Vai existir o empacotamento um a um. Esse é o futuro", sentencia.
Um outro movimento da indústria da TV por assinatura é a venda direta ao consumidor dos conteúdos das programadoras, sem a interferência das operadoras. A HBO já faz isso. Na semana passada, a Globosat passou a vender a assinatura de canais pay-per-view e, no ano que vem, irá oferecer o Telecine em aplicativo.
Isso não significa mais um golpe no modelo que mantém a TV paga? Para Alberto Pecegueiro, não. "A venda direta ao consumidor é ancilar, é para atender franjas do mercado", diz.
Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, que apresentou um estudo sobre o consumidor brasileiro no PayTV Forum, diz que o futuro da TV paga está, sim, ameaçado. "Isso vai acabar em 20 anos", quando a banda larga via cabo for substituída pela banda larga por radiofrequência.
Para Meirelles, a venda direta pelas programadoras é uma tendência que ficará cada vez mais forte, porque todos os novos televisores são smart, conectados à internet, e todos os canais estarão neles, em aplicativos, com seus conteúdos via demanda.
Enquanto as programadoras lançam aplicativos, as operadoras se veem como "agregadoras" de conteúdo, que podem carregar até a rival Netflix. Para Luiz Eduardo Baptista, presidente da Sky, os ajustes permitirão que a TV por assinatura sobreviva por mais "50 ou 60 anos".
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