Exibido no Brasil desde 1984 pelo SBT, o seriado mexicano Chaves teria sido o causador de uma tragédia ocorrida dez anos depois na cidade de Canindé, no Ceará. Um garoto tentou imitar uma cena de um episódio e morreu eletrocutado. O SBT, por sua vez, negou qualquer responsabilidade no caso, que caiu no esquecimento.
Chaves, criado e estrelado por Roberto Gómez Bolaños (1929-2014), teve seu auge de audiência no final dos anos 1980 e boa parte dos anos 1990, quando incomodava diariamente a Globo, chegando a obter mais de 20 pontos no Ibope, inclusive no horário nobre, ao lado de Chapolin.
No dia 1º de fevereiro de 1994, o garoto Pedro Victor Sampaio, de 7 anos, sofreu uma descarga elétrica e não resistiu. O caso foi divulgado pelo Jornal do Brasil do dia 12 de fevereiro. De acordo com seus pais, Pedro Victor assistia a um episódio em que ocorre um curto circuito na vila em que se passa a série.
Na história, produzida em 1977, Seu Madruga (Ramón Valdés) quer ver um jogo de futebol na televisão, mas não sabe que acabou a energia elétrica no local. Nervoso, joga seu televisor no chão e começa a chutá-lo, destruindo-o.
Depois, arrependido e querendo culpar o Senhor Barriga (Edgar Vivar) pelo ocorrido, tenta mostrar para Chiquinha (Maria Antonieta de las Nieves) como se origina um curto-circuito. Ele junta dois fios justamente quando a caixa de força da vila é religada e começa a tremer por causa da corrente elétrica.
Posteriormente, em virtude dos mesmos fios, os demais personagens também levam choques. No final, Chaves, jogando futebol, dá fim ao curto-circuito ao acertar a caixa onde estão os fusíveis, enquanto os demais desmaiam.
Segundo disse ao jornal o pai de Pedro Victor, o radialista Pedro Sampaio Neto, após ver as cenas, o menino pegou um fio velho da enceradeira, colocou em uma tomada e já caiu morto. O pai ainda o levou ao hospital, mas ele chegou sem vida.
A reportagem também informava que a mãe do menino, Maria Nádia Bezerra Sampaio, enviou uma carta para Silvio Santos.
"Ele era filho único da família e eu o amava muito. Agora minha vida mudou de sentido e acho que vou enlouquecer. Não quero que isso venha a ocorrer com outras famílias, porque a dor que estou sentindo será minha companheira para o resto da vida", dizia trecho da correspondência.
O jornal ainda retratou que os coleguinhas de Pedro Victor no Colégio Menino Jesus estavam muito tristes e decidiram que ninguém mais sentaria na carteira onde o garoto estudava.
A então diretora da escola, Joane Laurene de Oliveira, iniciou um movimento de boicote ao SBT. "A programação infantil da emissora está muito dirigida à violência, o que não é correto", disse ao JB.
SBT nega responsabilidade
A publicação também ouviu o outro lado: o SBT sustentou não ter nada a ver com o ocorrido no Ceará.
"O diretor Administrativo e de Divulgação do SBT, Ademar Dutra (1930-2010), negou ontem, em São Paulo, qualquer responsabilidade da emissora pela morte de Pedro Victor", informou.
"É um absurdo querer culpar o programa do SBT por essa tragédia. Transmitimos o Chaves há mais de dez anos e não há violência alguma nos seus personagens. É um
pastelão, uma espécie de Trapalhões mexicano, com um clima poético e ingênuo", definiu o diretor.
Chaves continua no ar pela rede de Silvio Santos até os dias de hoje. Desde o último dia 21, o longevo seriado também é exibido pelo canal Multishow, do Grupo Globo, junto com Chapolin.
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