Na despedida do escrete, tendo como ponto de partida a sede da CBF no Rio até o aeroporto do Galeão, poucas pessoas apareceram nas ruas para desejar boa sorte aos jogadores. Difícil identificar se ausência da torcida é efeito da paralisação dos caminhoneiros – segundo a imprensa, com perdas estimadas ao país de R$ 10 bilhões nos últimos cinco dias – ou apatia com a Seleção, a menos de um mês da estreia na Rússia.
De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Paraná na semana passada, 66% dos entrevistados afirmaram ter pouco ou nenhum interesse na Copa, enquanto 14,5% não sabem nem onde será disputada a competição, informa agência AFP.
Neste clima de pouco otimismo do torcedor comum, comércio fraco de adereços verdes-amarelos, ruas sem pinturas de símbolos do Mundial, nem bandeirinhas nem camisas da Seleção a adornar a população, Tite espera ajustar a engrenagem nesses últimos 15 dias de preparação na Europa antes de pisar no território russo em 11 de junho.
Terá dois amistosos – Croácia e Áustria – para definir de uma vez por todas o time titular. Por enquanto, sua maior dúvida é Neymar, na reta final de recuperação de três meses de uma fratura no pé direito
“Expectativa de que Neymar esteja à disposição para o primeiro amistoso (dia 3 contra Croácia em Liverpool). Foi submetido a uma carga de trabalho importante nesta semana (em Teresópolis), respondeu super bem. É claro que ele ainda precisa de um tempo de adaptação, de se sentir cada vez mais seguro. Essa fase de dois amistosos é importante para que ele possa se sentir cada vez melhor e preparado para a Copa do Mundo”, disse Rodrigo Lasmar, médico da Seleção, antes do embarque para Londres.
Neymar também está otimista, mas não esconde sua aflição depois de três meses no estaleiro.
“A Copa é um sonho. Um sonho que espero que não seja interrompido mais uma vez (se machucou nas quartas de final da Copa de 2014). Já tive algumas dificuldades que estou tendo agora. Perder o medo demorar um pouco. Tem nada que possa me impedir. O receio que sinto é por estar três meses parado. Cem por cento ainda não estou. Isso é com o tempo. Há um receio de fazer os movimentos totais. Ainda faltam alguns dias para a estreia (na Copa)”, disse Neymar a poucas horas do avião decolar.
Tite não pensa apenas em Neymar. No voo do Rio a Londres deve matutar a respeito da melhor formação da Seleção.
No gol já definiu Alisson, goleiro da Roma, como titular.
Nas laterais, adiantou que Danilo sai na frente de Fagner, ainda em recuperação de lesão muscular e sem aprovação da torcida, na lateral-direita. Na esquerda, Marcelo, que acaba de faturar a Liga dos Campeões com Real Madrid, é absoluto. Filipe Luís, há pouco recuperado de fratura na fíbula, é reserva inconteste.
Na zaga, Marquinhos e Miranda têm a preferência de Tite, mas Thiago Silva, ainda sob desconfiança da torcida por causa do chororô na Copa de 2014, cresceu de cotação com o treinador. Geromel é reserva.
No meio-campo, Casemiro, outro supercampeão com Real Madrid, tem vaga carimbada. Fernandinho é seu imediato. Paulinho é outro garantido. Ao seu lado, Renato Augusto perde terreno e pode ceder o posto a Fernandinho ou Philippe Coutinho, dependendo do adversário.
E no ataque, Gabriel Jesus sai na frente de Firmino. Willian joga se Coutinho for descolado para ser um meia. Neymar, em forma, é inquestionável.
Taison seria reserva mesmo nos amistosos e na Copa. O problema é que Douglas Costa, imediato de Neymar, se apresentou com lesão na coxa e abriu espaço para Taison, um dos mais questionados pelos analistas e torcida na lista de Tite.
“É a chance que todos procuram. Estou trabalhando para isso, estou à disposição. Torcendo pela recuperação do Douglas, Neymar… Temos que estar unidos, e todos buscamos estar disponíveis. Não me incomoda (as críticas). Torcida tem direito. Todos vocês (imprensa) têm direito de falar, escutar, é o trabalho de vocês. Estou muito tranquilo, tenho confiança do grupo, comissão técnica, que foi assistir aqui aos meus jogos. Estou muito tranquilo”, disse Taison antes do embarque.
Tite gosta de Taison. Assim como venera Zagallo, supercampeão na Seleção tanto como jogador como treinador, e se sente honrado com Carlos Alberto Parreira, campeão do mundo na Copa de 94, a elogiar seu trabalho.
Não por acaso, Zagallo e Parreira foram convidados a visitar o escrete na Granja Comary durante a semana de treinamentos, a primeira e última parada da Seleção no Brasil antes embarcar para Londres.
O treino de despedida na Granja teve invasão de torcedores, muita pajelança dos fãs e protestos dos que não conseguiram se aproximar dos jogadores. “Uh! é 7 a 1” gritaram em Teresópolis.
Pois é, Tite e sua trupe decolaram neste domingo com muitas dúvidas e uma certeza absoluta: Brasil não pode repetir na Rússia-2018 o vexame de 2014.
Quando desembarcar em Moscou, dia 11 de junho, a Seleção vai subir no ônibus oficial da Copa com a frase estampada nas laterais “Mais que 5 estrelas, 200 milhões de corações”. Cinco estrelas, o time brasileiro já tem bordadas na camisa amarela, 200 milhões de corações por enquanto não.
Postar um comentário
Deixe seu comentário