Mylena Ciribelli celebra 30 anos de TV sem perder o frio na barriga



Em 1988, época em que a figura masculina predominava na apresentação de programas de esportes na TV, Mylena Ciribelli, apresentadora do Esporte Fantástico, da RecordTV, estreava na extinta TV Manchete. Ela foi uma das primeiras jornalistas a cobrir e fazer matérias sobre futebol na televisão brasileira. Hoje, 30 anos depois, ela contabiliza o respeito de uma carreira consolidada, reúne carimbos no passaporte dos lugares de onde passou graças ao esporte e se preparar para escrever um livro relembrando todos os fatos marcantes da trajetória.  


Antes de Mylena, só a repórter Isabela Scalabrini, da Globo, dominava o assunto e, pouco depois, foi para Belo Horizonte, deixando a editoria. Com uma bagagem e tanto, Mylena diz que ainda sente a mesma emoção, adrenalina e frio na barriga de quando começou. "Espero ter isso sempre, porque é justamente isso que dá a motivação para fazer mais e mais", disse a jornalista, em sua primeira entrevista sobre o aniversário de 30 anos de carreira no esporte. 

Pai atleta e filha roqueira
Quando garota, Mylena tinha a certeza de que seria publicitária. Gostava dos intervalos dos desenhos animados que assistia na TV para entender como uma pessoa podia mostrar tudo de um determinado produto em apenas 30 segundos. Por vezes também pensou em engenharia e biologia. Mas o esporte, sempre esteve na vida de Mylena, por conta do pai. Jomar Corrêa Ciribelli era atleta, corria na pista de atletismo do estádio Caio Martins, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Foi da época de Adhemar Ferreira da Silva, bicampeão olímpico do Brasil.


Na infância, a apresentadora era levada pelo pai para assistir a partidas de basquete, futebol e, principalmente, vôlei, o seu favorito. Só não tornou jogadora por causa do seu 1,64 m de altura.
Outra figura importante na vida da jornalista é o irmão, o músico e compositor Márvio Ciribelli. Com ele, não só aprendeu o que era Deep Purple, Rush e Led Zeppeling, como também chegou a cantar em algumas apresentações do instrumentista. 
The Cure, Tony Bennett e afins
O caminho para o jornalismo esportivo foi traçado ainda cedo, quando Mylena aceitou a se candidatar a uma vaga de estágio para fazer locução em uma rádio local de Niterói. De cara foi aprovada: tinha boa voz e conhecimento de sobra em música.
Os ouvintes ficavam impressionados, uma vez que só existia locução masculina no rádio. Mais deslumbrados ainda porque ela ainda tinha todo o linguajar da garotada que ouvia rock'n'roll.

Da rádio migrou para a linha de shows da TV Manchete, apresentando o programa Som Maior, onde entrevistou grandes bandas como The Cure, Echo & the Bunnymen, e artistas como Tony Bennett e Ray Conniff. Só que Mylena precisava de um salário maior, queria algo mais consistente em termos financeiros. "Foi quando comecei no Manchete Esportiva, apresentando os boletins olímpicos de Seul e da Fórmula 1", relembra. "A minha sorte é que meu pai me deu muitas dicas, me ensinou, por exemplo, como eram os tempos de determinados esportes, me orientou".
Até que em 1991 foi chamanda pela TV Globo para apresentar o Esporte Espetacular.

O sonho que não veio
Na emissora carioca, Mylena se tornou referência ao lado dos veteranos Léo Batista e Fernando Vanucci. No entanto, naquela época, os rostos femininos nos programas esportivos não eram comuns. Mergulhada num ambiente inteiro masculino, a apresentadora não deu bola para críticas e eventuais piadinhas.
"Como antes eu trabalhava em uma rádio rock’n’roll, um reduto também masculino, tentei não prestar muita atenção nisso. Também não me preocupei em querer me impor", disse. E acrescentou. "Não tem que bater de frente. As mulheres já conquistaram seu espaço suficiente hoje, talvez no início a gente tenha sofrido mais. Tanto que nos dias atuais, na hora de contratar, tem momentos até que a preferência é feminina. Nós temos características que, de repente, pode agradar mais no ar, na locução, na apresentação".
Foram 18 anos de TV Globo. Foram tempos felizes, mas de sonho não realizado. O que a incomodava era o fato de ficar somente no estúdio, exceto a vez que viajou pelo canal para a Europa para cobrir a Copa do Mundo da França, em 1998.

Passaporte carimbado
Em 2009, Mylena recebeu o convite da RecordTV para ser a cara do jornalismo esportivo da emissora. Ela sabia que o canal havia comprado os Jogos de Inverno de 2010, realizado em Vancouver, e as Olimpíadas de 2012, em Londres, para onde embarcou realizando por fim o grande sonho. "Foi o máximo estar ali dentro do estádio, na hora da abertura, ao vivo, falando. Chamando Paul McCartney, cantando ali do meu lado, e narrando tudo aquilo".
E seguiu. "Aqui (na RecordTV), tive oportunidade de fazer coisas que eu nunca tinha feito antes".

Vasculhando os passaportes da jornalista, quatro, pelo menos, se vê que Mylena rodou o mundo. Em sua estreia na RecordTV, foi para Auburn, nos Estados Unidos, entrevistar o campeão olímpico de natação César Cielo. Em 2010, fez as malas e embarcou para Copa do Mundo da África do Sul. No mesmo ano, viajou para Cingapura trabalhar nos Jogos Olímpicos da Juventude. No ano seguinte, voou até o México para cobrir os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara.
Com pouco mais de fôlego, encarou as baixas temperaturas do Chile na Copa Sul-Americano de Snowboard Cross, em Valle Nevado. Trabalhou no Pan-Americano de Toronto. Em 2018, desembarcou em Medellín, na Colômbia, para cobrir os Jogos Sul-Americanos. E em breve, já se prepara para os Jogos Pan-Americanos 2019, que terá como sede principal a cidade de Lima, capital do Peru. 

O Lado B 
Mylena Ciribelli é mãe de Théo, que acaba de completar 19 anos e cursa Psicologia em uma faculdade no Rio de Janeiro. Ela diz que o garoto está se preparando para tirar a primeira habilitação. "Adolescente precisa da mesma atenção que se dá a uma criança. Enganam-se os pais que pensam que não. Essa fase é uma fase muito importante".

Viciada em trabalho no passado, a veterana ouviu de amigos que com a vinda do filho teria que mudar os hábitos. "Chegava para trabalhar na TV e não tinha hora para sair. Começava a editar e editava até a noite, até a madrugada. Minha exigência sempre foi grande até demais. E me falaram que eu ia aprender a dar um limite para mim mesmo", relembra.
E ela disse que deu. Garante que soube dosar bem o tempo do trabalho com a maternidade.
Há nove anos, a apresentadora do Esporte Fantástico vive na ponte Rio-São Paulo. Ela diz que já se acostumou e tem o melhor dos "dois mundos", porque ama a Cidade Maravilhosa e porque na Terra da Garoa fez ótimas amizades.


Não é de fazer planos para o futuro. Prefere que o tempo se encarregue de trilhar o caminho. Acredita que a vida é feita de ciclos. Mas tem projetos paralelos ao esporte. "Tenho umas histórias infantis que fiz para o meu filho quando ele era pequenininho. E até hoje eu não lancei."
Além das publicações, Mylena também quer retomar atividades que fazia na época da adolescência. "Quero voltar a pintar e desenhar. Dançar... eu fazia ballet, jazz, e quero voltar a tocar piano", entrega. E também pretente usar a vóz para lançar um CD.  
Mas antes de tudo, Mylena vai levar para as livrarias a história completa de seus 30 anos de carreira no esporte. "Não sei se vou me lembrar tão rápido de tantas coisas intressantes que vivi (risos). Mas esse, com certeza, será o ponta-pé inicial", conta ela, empolgada.

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