Uma cena do antepenúltimo capítulo de O Outro Lado do Paraíso provocou reações iradas nas redes sociais. No momento em que Fabiana (Fernanda Rodrigues) foi presa, várias colegas de cela a perturbaram e a trataram com desprezo. Com exceção da dondoca, todas as presidiárias eram negras. A sequência, considerada racista por telespectadores, foi exibida em meio à polêmica envolvendo Segundo Sol, que se passará na Bahia e não tem negros protagonistas.
A cena, exibida na quarta-feira (9) mostrou a chegada de Fabiana à prisão. Enquanto era levada à cela, ela já ouvia gritos e olhares curiosos e maliciosos das outras presas. As mulheres, de aspecto maltratado, chamaram a vilã de patricinha e começaram a tirar sarro dela, que ficou desesperada. Fabiana terminou sua participação na novela gritando, numa cela rodeada por prisioneiras negras.
Durante e depois da exibição do capítulo, telespectadores chamaram a atenção para o fato de a Globo só colocar vários atores negros em uma cena quando ela acontece na prisão. A sequência em que Vinicius (Flávio Tolezani) foi assassinado numa penitenciária também teve maior participação de figurantes negros. Mas não a totalidade, como no caso de Fabiana.
"Só tinha negras na cela da cadeia na novela O Outro Lado Do Paraíso... Não sei se sinto mais ódio ou mais nojo dessas novelas racistas da Globo!", disse uma usuária do Twitter identificada como Letícia Mariano. "Enquanto falta negro no elenco da nova novela das 21h, Segundo Sol, na cadeia de O Outro Lado do Paraíso é o que mais tem", alfinetou o internauta Alzyr Saadehr.
Procurada por email e por telefone, a Globo não emitiu pronunciamento oficial sobre o assunto.
Racista ou não, a encenação da cadeia feminina de O Outro Lado do Paraíso foi representativa da realidade. De acordo com o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, divulgado pelo Ministério da Justiça em 2015, duas de cada três presidiárias brasileiras são negras.
Novela 'embranquecida'
A sucessora de O Outro Lado do Paraíso ainda nem entrou no ar e já é acusada de racismo. A trama de Segundo Sol se passará na Bahia, Estado que concentra o segundo maior número de pessoas que se declaram pardas ou pretas: 76,3% da população, segundo dados do censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na novela, só quatro dos 44 atores são negros.
A emissora foi alvo de muitas reclamações e até de campanhas nas redes sociais, que mostravam vários atores talentosos que poderiam estar na novela. A escalação de Roberta Rodrigues para o papel que seria de Carol Castro fez parte dos ajustes para ter negros no elenco, assim como Danilo Ferreira.
Acusada ainda assim de "embranquecer" a Bahia, a Globo fez na semana passda uma reunião, solicitada por um grupo de atores, para explicar o posicionamento da empresa sobre os comentários críticos à escalação da novela.
"Uma história como a de Segundo Sol nos traz muitas oportunidades e, sem dúvida, reflexões sobre diversidade na sociedade, que serão abordadas ao longo da novela. As manifestações críticas que vimos até agora estão baseadas sobretudo na divulgação da primeira fase da novela, que se concentra na trama que vai desencadear as demais", a Globo declarou em nota oficial divulgada no último dia 3.
"Que estamos atentos, ouvindo e acompanhando esses comentários, seguros de que ainda temos muita história pela frente. Foi colocado [na reunião com atores] que, de fato, ainda temos uma representatividade menor do que gostaríamos e vamos trabalhar para evoluir com essa questão", complementou a nota.
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