No início das transmissões da Bandeirantes, destacaram-se atrações como Ary Toledo Show; I Love Lúcio, paródia de I Love Lucy com Lúcio Mauro e Arlete Salles; o jornalístico Titulares da Notícia; Leporace Show, com Vicente Leporace; e Cláudia Querida, apresentado pela cantora Cláudia.
A primeira incursão da emissora no campo das telenovelas ocorreu logo na inauguração, com o lançamento de Os Miseráveis, de Walther Negrão, baseada na obra de Victor Hugo. Dirigida por Ademar Guerra, a produção inovou ao apresentar capítulos de 45 minutos, ao contrário da média de 30 das concorrentes. No elenco, Leonardo Villar, Maria Isabel de Lizandra, Geraldo Del Rey, Raul Cortez, Sadi Cabral, Laura Cardoso, Serafim Gonzalez, Rubens Corrêa e Silvio de Abreu – o próprio, autor de novelas –, entre outros. Também marcou época nos primórdios da Bandeirantes o Teatro Cacilda Becker, cujos programas se mantêm preservados até hoje.
Também do início das operações da emissora, em 1968, vem um de seus programas clássicos: a Cozinha Maravilhosa da Ofélia, que permaneceu no ar até 1998, quando faleceu a apresentadora Ofélia Anunciato. Simpática, segura diante das câmeras e no preparo dos pratos, com ingredientes de preços acessíveis e fáceis de encontrar, Ofélia marcou gerações de telespectadores dos programas de culinária na TV. Abaixo o registro de uma das muitas receitas de Ofélia, num programa de 1995:
Em julho de 1969, houve incêndios em várias emissoras de TV de São Paulo, e a Bandeirantes foi uma delas. Na ocasião, as transmissões não foram interrompidas e a emissora fez uma cobertura do incêndio de seu próprio prédio, no bairro do Morumbi, com o uso de caminhões de externas. O sinistro prejudicou as estratégias planejadas pela emissora, que produzia novelas, musicais e passou a ser financiada pela estação de rádio do grupo. Mas também ajudou, ao obrigar um reaparelhamento da TV com equipamentos aptos à produção e exibição de programas em cores.
Nos anos que se seguiram ao incêndio, até para se reerguer com mais tranquilidade, a Bandeirantes recorreu a seu jornalismo e à exibição de filmes e séries estrangeiros, os famosos “enlatados”. Ao longo da década de 1970 investiu numa programação “qualificada”, tanto por poder transmitir em cores quanto para se diferenciar das concorrentes e atender às classes A e B, com musicais, jornalismo e esporte. Estabilizou-se na terceira posição no ranking de audiência, atrás da Rede Globo e da Rede Tupi.
Em 1979, a volta ao setor de novelas ocorreu com Cara a Cara, escrita por Vicente Sesso e dirigida por Jardel Mello. O elenco reunia astros da Globo e da Tupi para contar a história da busca de Ingrid Von Herbert (Fernanda Montenegro) pelo filho que lhe fora roubado num campo de concentração nazista: Luís Gustavo, Débora Duarte, David Cardoso, Fúlvio Stefanini, Rolando Boldrin, Irene Ravache, Fausto Rocha, Maria Isabel de Lizandra, Márcia de Windsor, Edson França, Wanda Kosmo, Carmen Silva, Roberto Pirillo, Célia Coutinho, Ruthinéa de Moraes, Nathália Timberg e outros.
Até 1983, a Bandeirantes marcou presença com várias novelas, que representaram uma opção às produções da Globo e aos originais mexicanos adaptados pelo SBT: Cavalo Amarelo (1980), de Ivani Ribeiro, comédia com Dercy Gonçalves, Yoná Magalhães, Fúlvio Stefanini e Rodolfo Mayer; Os Imigrantes (1981/82), de Benedito Ruy Barbosa, que contou durante um ano e meio a saga de representantes de diversas nacionalidades que ajudaram a erguer o Brasil do século 20, com Rubens de Falco, Othon Bastos, Altair Lima e Maria Estela; Ninho da Serpente (1982), de Jorge Andrade, sobre a aristocracia paulista em decadência, com Cleyde Yaconis, Kito Junqueira, Eliane Giardini, Laura Cardoso e Beatriz Segall; e Sabor de Mel (1983), também de Jorge Andrade, com Sandra Bréa, Raul Cortez, Gianfrancesco Guarnieri e Eva Todor numa trama de mistério em torno do enigma proposto por uma milionária.
Também marcaram época na emissora duas séries protagonizadas por Nair Bello: Dona Santa (1981/82) e Casa de Irene (1983), ambas escritas por Geraldo Vietri. Fosse a taxista Santa ou a dona de pensão Irene, as personagens faziam o tipo mãezona e viviam às voltas com os parentes e/ou inquilinos.
Nos anos 1980, a emissora deu início à grande tradição de “canal do esporte” com a criação do Show do Esporte, maratona de todas as modalidades, com transmissões, coberturas e comentários comandada por Luciano do Valle. Na mesma época a Bandeirantes tornou-se a primeira TV brasileira a exibir programas feitos por produtoras independentes: Dinheiro e Crítica e Autocrítica eram produzidos pelo jornal Gazeta Mercantil; Nova Mulher, com Fátima Ali, então diretora da revista Nova, e Bastidores, com Thomaz Souto Corrêa, eram de responsabilidade do núcleo de televisão da Abril, que pretendia inclusive ter seu próprio canal e esteve na concorrência pelos canais cassados da Rede Tupi, perdendo-os para Silvio Santos e Adolpho Bloch. Nesse começo dos anos 1980, Walter Clark, um dos homens de TV que ergueram a Rede Globo, foi diretor da Bandeirantes.
Marcando o início de uma tradição, a Bandeirantes promoveu o primeiro debate dos candidatos à presidência da República, em 17 de julho de 1989, e segue até hoje iniciando o ciclo de debates televisivos nas eleições majoritárias. Na ocasião, o Brasil elegeria pela primeira vez o presidente da República por voto direto após quase 30 anos – o último havia sido Jânio Quadros, eleito em 1960.
Na década de 1990, após momentos difíceis ocasionados pelos planos econômicos do governo, e também já padecendo de uma falta de identificação de outros públicos que não o masculino com a emissora – a exemplo de hoje em dia, inclusive –, a Bandeirantes resolveu promover mudanças significativas em sua grade de programação. Foram criados programas para toda a família, como game shows vespertinos – Supermaket, com Ricardo Corte Real; Melhor de Todos, com Daniel Filho –, a série Confissões de Adolescente, sucesso na Cultura, foi levada por Daniel, seu diretor, para o canal do Morumbi; novas novelas como A Idade da Loba (1995/96), de Alcione Araújo, com Betty Faria, Ângela Vieira, Adriano Reys e Juca de Oliveira; os debates de Silvia Poppovic; e, mais para o final da década, o programa H (1998), com Luciano Huck.
No jornalismo, além da credibilidade de muitos anos do Jornal Bandeirantes, depois Jornal da Band – que já foi apresentado, entre outros, por Ferreira Martins, Ronaldo Rosas, Marília Gabriela, Paulo Henrique Amorim, Marcos Hummel, Janine Borba, Carlos Nascimento, Ticiana Villas-Boas e hoje está sob o comando de Ricardo Boechat e Paloma Tocci –, merecem destaque o Canal Livre, que surgiu com os ares da abertura democrática na virada para os anos 1980, e o Cara a Cara, com Marília Gabriela, atração consagrada pela qualidade das entrevistas.
Na linha de shows da emissora, não pode ser esquecido o Clube do Bolinha, que entre as décadas de 1970 e 1990 foi apresentado por Edson Cury e marcou as tardes de sábado. Ainda, Flávio Cavalcanti e o Boa Noite, Brasil, no começo dos anos 1980, e que teve seu título reaproveitado nos anos 2000 numa atração com Gilberto Barros também exibida diariamente.
Na linha de shows, um grande destaque também foi o humorístico Bronco, do final da década de 1980, com Ronald Golias, Nair Bello, Renata Fronzi, Laerte Morrone, Sandra Annenberg e outros.
Nos últimos tempos, além do jornalístico Brasil Urgente, de José Luiz Datena, o grande sucesso da emissora tem sido o reality show Masterchef, apresentado por Ana Paula Padrão. Neste ano, a Bandeirantes iniciou a implementação de uma nova política de programação que visa atrair o público que se afastou da emissora “esportiva”, como as mulheres, com o Melhor da Tarde de Cátia Fonseca e o Superpoderosas, com Natália Leite. É um caminho interessante e bastante válido, já que a segmentação a exemplo de canais pagos não parece ter dado certo, embora pareça ter sido considerada acertada pela casa. Lamenta-se o subaproveitamento (ou mesmo nenhum aproveitamento) do rico acervo da Bandeirantes e os disparos para todos os lados, com boas atrações utilizadas como meros tapa-buracos – desenhos animados, séries, documentários da BBC etc. Em seus 51 anos, deseja-se sorte e sabedoria à emissora do Morumbi para que seus resultados artísticos e comerciais sejam melhores, aliados ao respeito ao telespectador.
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