Quando o assunto é versão brasileira, um dos temas mais discutidos é a chamada redublagem, ou seja, quando um filme, série, desenho animado ou programa recebe uma nova dublagem, que acaba por ser bem diferente da original, tanto na escalação do elenco de dubladores, quanto nas interpretações e no texto. Isso provoca a maioria das queixas de fãs de dublagem, porque “aquela versão clássica, que eu adorava assistir” é substituída e às vezes, as pessoas nem sabem por que.
O caso é que as redublagens são feitas por diferentes motivos e mesmo que isso provoque a ira dos fãs, em alguns casos, é algo totalmente necessário a se fazer, para que a obra possa ser apreciada por novas gerações. Ajustar a qualidade da imagem e do som às novas tecnologias e mídias é talvez o fator mais determinante para que uma nova versão dublada seja feita. Mas também há casos em que o “dono da obra” exige uma nova dublagem, por considerar mais válida uma versão mais atualizada do trabalho, questões contratuais com estúdios e profissionais, substituição de dubladores que não aceitam redublar ou em casos de falecimento e mudanças nas “casas” de dublagem, entre outros fatores.
Quando a gente ouve por aí que “Nunca deveriam ter redublado aquele filme!” ou “Essa nova dublagem estragou a original!”, é preciso saber o real motivo de isso ter acontecido. Como fã de dublagem, defendo mais do que tudo uma versão brasileira de qualidade, que seja feita por profissionais capazes e talentosos e que respeite tanto a obra original, quanto aos seus admiradores e consumidores. Diante disso, este artigo tem por objetivo apresentar e discutir com você leitor as diferentes características das redublagens e como elas devem acontecer.
Primeiramente, quando alguém se queixa ou comenta sobre uma redublagem é porque geralmente tem uma dublagem original na memória e não concorda que essa seja substituída por qualquer outra. Em casos de pessoas como eu, que estão “na casa dos trinta”, a maioria das dublagens clássicas e únicas são aquelas dos filmes, séries e desenhos animados dos anos 80 e 90, quando éramos crianças e adolescentes. Casos como “De volta para o futuro”, “Curtindo a vida adoidado” e “Jornada nas estrelas”, fazem com que tenhamos muitas e boas lembranças de tardes na frente da televisão assistindo a esses filmes.
No caso desses e de diversos outros exemplos, o fato é que as dublagens eram encomendadas aos estúdios pelas emissoras de televisão que os exibiriam, já que naquela época, o mercado de home vídeo ainda dava seus primeiros passos e a maioria das fitas em VHS eram lançadas apenas em suas versões originais com o recurso de legendas eletrônicas. Quando você queria assistir a um filme dublado, deveria ver na televisão.
Por isso, estúdios como a Herbert Richers, VTI e Maga, entre tantos outros, sob contrato com emissoras como a Rede Globo e SBT, por exemplo, produziam dublagens que se tornariam verdadeiros marcos na história dessa arte e contando com os melhores profissionais, além de jovens promessas que viriam a se tornar lendas vivas. Assistíamos tantas vezes esses programas, que suas dublagens ficaram “gravadas” em nossas mentes e corações e ainda hoje são lembradas em diversos momentos de nossas vidas nerds.
Muitos dos nossos “filmes de coração” foram lançados anos depois em mídias de alta tecnologia, como o DVD (que hoje já não é tão altamente tecnológico assim), ganhando novas versões dubladas, proporcionando aos espectadores a opção de escolher a forma como assistir. As mídias modernas, além da qualidade incrivelmente maior que as boas e velhas fitas propiciam esse poder ao espectador, o que aumentou o mercado de dublagem no Brasil em meados dos anos 90 e que se mantém até os dias de hoje.
Alguns casos de lançamentos, como “Gremlins”, “Conan – O bárbaro” e “Jonny Quest – A série original”, este último em DVD e os demais em Blu-Ray, as versões dubladas originais foram mantidas e mesmo que a qualidade sonora nem sempre esteja em conformidade com as novas tecnologias de áudio, permitem que os “saudosistas” curtam seus filmes favoritos como antigamente (com uma imagem muito melhor, diga-se de passagem).
Porém em filmes como “Guerra nas estrelas” e o já citado “De volta para o futuro”, novas dublagens foram feitas, com mais qualidade sonora e excelentes interpretações. Mas convenhamos que ao menos uma faixa do áudio original poderia ser mantida, caso o material não estivesse perdido. O grande Eleu Salvador, que deu voz ao Doutor Emmet Brown (Christopher Lloyd) na clássica trilogia, infelizmente havia falecido e um novo dublador foi chamado, no caso, o também excelente Mauro Ramos. Os detentores dos direitos do filme simplesmente optaram por uma nova versão.
Uma de minhas dubladoras favoritas, Miriam Ficher, que participou dessa nova versão da trilogia, em conversa comigo, disse que os fãs que viram o filme original gostam mais da primeira dublagem e que aqueles que assistirem pela primeira vez, gostarão da nova dublagem e também se queixarão caso uma nova versão seja feita. Concordo com ela totalmente, afinal, o que se vê pela primeira vez fica marcado na sua história. No caso desses filmes, gosto das duas dublagens, mas a primeira é aquela que sempre virá na frente na cabeça momentos antes de iniciar o filme para mais uma exibição.
A dublagem original poderia estar nessas novas versões, dessa forma, tanto os fãs clássicos como os novos teriam uma experiência maior ao assistirem ou reassistirem a essas obras tão importantes na história do cinema e da cultura popular em geral.
Enfim, temos casos em que a dublagem original é mantida, mesmo em novos lançamentos. E temos casos em que a dublagem original sequer é cogitada. Sem querer impor qualquer opinião, não é melhor manter a dublagem original? Garanto que isso é um excelente atrativo para futuras vendas. O mercado se faz com consumidores, que antes de serem consumidores, são fãs.
Referi-me anteriormente a casos em que determinado dublador nos deixa. Newton da Matta é considerado por muitos fãs e especialistas como um dos maiores dubladores de todos os tempos, com trabalhos fantásticos como Lion’O de “Thundercats” e diversos filmes de Bruce Willis e Dustin Hoffman. A chamada “voz de Bruce Willis” infelizmente nos deixou em 2006 e desde então, outros profissionais vem dublando os filmes do conhecido ator. O mais importante é que o trabalho de Newton foi mantido na maioria dos casos, tamanha a qualidade e identificação que o dublador obteve. Como assistir aos clássicos filmes “Duro de matar” sem a interpretação cheia de ironia que ele conseguiu alcançar? Impossível.
Quando o dublador falece em meio a uma série ou depois de diversos personagens de um mesmo ator, de fato, há a necessidade de substituição ou mesmo em casos como os novos programas de Roberto Goméz Bolaños, o criador do Chaves, que chegaram ao Brasil nos anos 90. Como Marcelo Gastaldi, o dublador original do ator, havia falecido, outros foram chamados, sendo que Tatá Guarnieri o dublou em produções mais recentes. Mas a voz de Gastaldi continua nas exibições da série original, respeitando o seu legado.
Redublagens não são necessárias nesses casos, a meu ver, já que são representações de respeito e devoção por seus profissionais. E quanto mais as dublagens originais forem mantidas e disponibilizadas para os fãs, novos e clássicos, mesmo havendo redublagens, melhor para os distribuidores e produtores, pois saberemos que o mercado acima de tudo, valoriza a arte e o trabalho (ainda creio que isso acontecerá um dia).
Redublar não significa esquecer ou destruir o que um dia foi feito de forma magistral. O que já foi feito um dia, com a qualidade e dedicação de tantos profissionais (dubladores, diretores, técnicos de som, tradutores, etc) não pode simplesmente ser jogado fora e o que está sendo feito hoje em dia deve fazer parte da incrível e maravilhosa história da versão brasileira. Nossa dublagem é a melhor do mundo e tudo o que foi construído é parte de um legado que jamais será apagado de nossas memórias e corações.
E voçê tem Algum Filme,Série,desenho que foi "redublado" e voçê não Curtiu?Conta ae pra gente.
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