Reality "No Presídio" traz a experiência de um sociólogo que se passa por detento durante uma semana Créditos Carlos Fofinho/Divulgação Multishow |
Sociólogo, mineiro, 30 anos, sem antecedentes criminais. Inocente, Thales Santos abdica de sua liberdade para viver uma experiência real e inusitada: uma semana encarcerado, passando por todos os procedimentos de um detento no Brasil. Os sete episódios de "No Presídio" foram gravados em três penitenciárias localizadas em Rondônia.
Criador da série, José Júnior fala sobre o início do projeto: "A ideia inicial era que eu fosse o protagonista. Cheguei a fazer um piloto onde fiquei preso por 24 horas, mas achamos que não teria muito impacto por já conhecer este universo. Então pensamos em colocar alguém que nunca tivesse tido contato com o meio. Ao topar o desafio, o Thales achou que eu iria acompanhá-lo durante as gravações. E não queríamos que ele tivesse esse conforto com a minha presença. Isso gerou uma insegurança nele e a ideia era exatamente essa", analisa.
Segundo Thales, a atração traz uma oportunidade de quebrar um forte preconceito na sociedade, que só reforça ainda mais a dificuldade que o preso enfrenta para conseguir sair do mundo do crime: "Quando recebi a proposta senti um gelo atravessar o meu corpo e ao mesmo tempo entendi que não tinha como dizer não. O Junior disse que eles não podiam garantir o que iria acontecer comigo, mas assegurou que fariam de tudo pela minha segurança. De alguma forma eu sabia que os meus medos poderiam ser muito maiores do que a realidade, devido aos preconceitos. Mas a vontade de quebrá-los era muito maior", declara.
No episódio de estreia, Thales chega a Porto Velho, em Rondônia, onde é abordado por policiais e levado em uma viatura para a cadeia de triagem. É imediatamente revistado e toma um choque de realidade ao receber uma punição do agente penitenciário por questionar os procedimentos. Por medidas de segurança, suas calças são cortadas e ele encara sua primeira cela nesta saga de conhecer a realidade dos presídios brasileiros. Nos episódios seguintes, ele tenta se ambientar com os colegas de cela e decide fazer uma revelação pessoal. Thales também descobre os procedimentos de higiene e alimentação, encara algumas transferências de penitenciária e ouve muitas histórias intrigantes.
Para o diretor Gideon Boulting, a série traz um retrato da cadeia no Brasil através dos olhos de um não-criminoso e espera que esta jornada traga algum tipo de experiência também para o telespectador: "Esperamos passar para o público um pouco deste universo, considerado um tabu. Queremos mostrar a realidade dessas pessoas. Vivemos em uma sociedade extremamente desigual, onde as pessoas cultivam muito mais o medo e ódio, ao invés de compartilhar a riqueza e dar o prazer da educação e da saúde para todos. Continuamos na esperança de um dia poder exercer uma justiça imparcial, independente de classe ou raça, pois o preconceito é o responsável por gerar todo esse crime em primeiro lugar", declara.
O protagonista Thales ainda destaca os pontos positivos e negativos que tirou da experiência: "O principal ponto positivo foi o meu crescimento como ser humano. Eu me deparei com uma realidade desconhecida e isso me ajudou a entender um pouco do sistema prisional. Mas também descobri uma realidade muito discriminatória. Percebi o quão desarticulados politicamente estão os presos, principalmente os mais novos em relação aos seus direitos, o que me deixa muito pessimista sobre o futuro. Acredito que a série possa mostrar um aprendizado para todos, muitas reflexões, não só desta realidade, mas da sociedade como um todo. Que funcione como uma importante aula para compreender nossos privilégios e a entender que julgar as ações das outras pessoas sem conhecer suas realidades não nos leva a lugar nenhum", justifica.
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