Em época de crise, emissoras abrem mão de audiência e qualidade por dinheiro.


A crise que assola o país faz suas vítimas em todos os setores da nossa economia. No setor de produção audiovisual não tem como ser diferente: a crise afeta os anunciantes, que reduzem a carga de anúncios. Como contrapeso, as emissoras reduzem ao máximo o custo de suas produções e operações.

Toda crise é igual. Algumas emissoras, como Globo e Record, reduzem os gastos e evitam apostar novidades de futuro obscuro. A ordem é manter o essencial funcionando e deixar os projetos novos para um período mais de alta.

O SBT segue o velho processo de “enlatar” a grade, aumentando a quantidade de horários com produções estrangeiras, sejam novelas, filmes, programas ou seriados, mas o foco da coluna de hoje é em Band e RedeTV!.
As emissoras paulistas começaram a partir para um outro caminho, o da venda de horários a produtoras independentes. A prática, por si só, fere a lei das concessões, mas a necessidade e a falta de aplicação das leis faz com que seja recorrente.

No final dq última grande crise, ainda sob o governo de Fernando Henrique Cardoso, a Bandeirantes negociou a venda do horário das 21h para o missionário R.R. Soares apresentar o seu “Show da Fé”.


Na época, a emissora tratou como uma solução passageira, que duraria um ou dois anos e sairia da grade, mas o tempo passou e, salvo por pouco tempo em 2012, o programa não deixou mais as noites da emissora.

Se o missionário trouxe alegria e alívio financeiro à Band, o mesmo não se aplica quando o quesito é audiência. O canal caiu da casa dos 5 pontos para apenas 1 e sepultou as chances da TV dos Saad brigar com um cambaleante SBT pelo terceiro posto no ranking do Ibope.

A RedeTV! também optou pelo caminho da venda de horários. Desde os fins de semana, que chegaram a ter dias dominados pelas mais diversas denominações religiosas, até o início do horário nobre, vendido também ao “Show da Fé”.

A crise passou, os programas, não, e outra crise chegou. Com nova queda de receita, novamente as emissoras recorreram à venda de horários para fechar a conta no final do mês.

A RedeTV! saiu na frente e, de forma surpreendente e repentina, tirou uma hora do recém-estreado “Olha a Hora”, de Luciano Faccioli, para inserir uma atração da Igreja Universal (IURD), de Edir Macedo, proprietário da Record.

O resultado não poderia ser pior. Se recebendo a audiência em 3 pontos do programa “A Tarde é Sua”, de Sônia Abrão, Faccioli suava para manter 1 ponto e meio, recebendo no traço da IURD a atração passou a lutar bravamente contra o zero absoluto, o que, por sinal, chegou a atingir em vários dias, se considerarmos o arredondamento sugerido pelo Ibope.
Ignorando o resultado da concorrente e também precisando de dinheiro, a Band não pensou duas vezes ao vender um horário em suas tardes para a exibição do programa “Qual é o Desafio?”.

O estrago na audiência começa a ser percebido. A audiência no horário caiu de 2,3 pontos com “Os Simpsons” para 0,6, fazendo com que sua média nas 24 horas caísse de 2,2 pontos para 1,8, além de afetar negativamente os números dos programas que antecedem (“Os Donos da Bola”, com Neto, de 3,2 a 2,5 pontos) e sucedem (“Brasil Urgente”, com José Luiz Datena, de 3,9 para 3,5 pontos).


Embora o impacto dos números pareça pequeno, para uma emissora que ano passado atingia 2,7 pontos de média 24 horas, reduzir para 1,8 com viés de queda é assustador e faz com que o quarto posto no ranking, outrora consolidado pela emissora do Morumbi, comece a sofrer pressão de emissoras como Cultura e RedeTV!.

O maior problema das produtoras que compram esses horários é que, em geral, seus programas atingem a um público restrito ou possuem qualidade duvidosa (algumas vezes as duas opções juntas), pois, para elas, o importante é lucrar ou vender seu peixe, não conquistar telespectadores para o horário.

Isso faz com que diminuam as opções do telespectador, que fica cada vez mais restrito a Globo, Record e SBT.

Fonte:Na Telinha

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