Após surpreender o mercado com aquisição dos direitos de transmissão da Liga dos Campeões em 2015, o Esporte Interativo entrou na disputa pelos direitos de TV fechada do Campeonato Brasileiro a partir de 2019 e já fechou contrato com Santos, Internacional, Atlético/PR, Coritiba, Bahia, entre outros.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, por Guilherm Seto, o vice-presidente de conteúdo esportivo do canal, Edgar Diniz, comenta as barreiras à atuação de uma jovem empresa no mercado brasileiro e descreve as dificuldades nas disputas com a Globo.
Veja abaixo algumas declarações do executivo da Turner.
"Entrando especificamente na questão do futebol, é muito importante que os direitos de transmissão dos clubes sejam negociados em janelas, como foi determinado pelo Cade em 2010. Antes disso, você tinha uma situação onde um grupo como o Globo tinha vantagem competitiva indevida se ele conseguisse fazer com que a comercialização fosse conjunta –a chamada "venda casada" de todos os direitos. Quando o Cade determinou que essas mídias fossem separadas, ele abriu espaço para que surgissem outros players disputando os diferentes direitos de transmissão em TV aberta, fechada, etc.. Isso beneficia os clubes, que poderão escolher a oferta que acharem melhor; e os torcedores, que poderão decidir entre diferentes ofertas de transmissão".
"Outra vantagem é que os clubes conseguem ter direitos super razoáveis respeitados. Por exemplo, podem ter suas arenas chamadas por seus nomes, ou seja, não ter ninguém arbitrariamente rebatizando as arenas por um outro nome por não ter contrato com quem adquiriu os naming rights do estádio. No mercado americano, todas as emissoras chamam as arenas por seus nomes oficiais, independentemente de acordos comerciais. Isso é um pensamento antigo, que a Globo certamente vai reavaliar. A concorrência faz com que isso aconteça".
"A Globo faz um trabalho extraordinário há muito tempo na área de esportes. Mas acreditamos que há espaço para mais de um 'player'. A concorrência existe em qualquer mercado mais desenvolvido. Não queremos desafiá-los, mas construir nosso próprio espaço. Ficamos muito felizes com a reação que recebemos dos torcedores nesse processo. Por conta de ser um player só há muito tempo, gera essa tensão toda na mídia. Acho que para o bem do futuro, essa disputa vai se tornar muito natural no futuro, com a possibilidade de entrada de ainda mais players na concorrência por direitos, forçando todos a serem mais competentes. Podem entrar Fox, Espn, e isso é mais saudável para o mercado".
"Negociamos com Palmeiras, Grêmio e Atlético/PR, clubes que têm arenas super modernas. Eles podem gerar receita com naming rights, por exemplo, quando o nome das arenas são falados em transmissão. Além disso, como o Esporte Interativo pode ajudar? Estamos conversando sobre ceder o sinal da nossa transmissão para que os sócios-torcedores possam ver o replay dos lances nos smartphones, para que assistam ao pré-jogo e ao pós-jogo nessas plataformas. Isso valorizaria ainda mais os programas de sócios-torcedores como o Avanti, do Palmeiras, por exemplo, deixando os clubes com mais receitas e menos dependentes da televisão".
"No longo prazo, dessa forma, os direitos de transmissão vão custar mais caro, obviamente. Mas do ponto de vista do Esporte Interativo, é melhor pagarmos mais caro e ajudar o esporte a se desenvolver do que fazermos o futebol brasileiro nosso refém. É o que diferencia nosso projeto do que vem acontecendo nos últimos 20 anos, quando a dependência exagerada dos clubes da Globo fez com que eles esperassem adiantamentos e não buscassem novas linhas de receita. A gente acredita que há uma oportunidade de tirar o atraso dos últimos 20 anos caso clubes e grupos de mídia pensem no sentido de melhorar o futebol brasileiro".
"Gostaria de frisar, no entanto, os efeitos da entrada do Esporte Interativo na disputa pelos direitos de transmissão. Antes de fazermos nossa oferta, a Globo fechou com alguns clubes um contrato em que ela reduzia o valor do contrato vigente em 25% em troca de um empréstimo. Com isso, ainda renovava os direitos por mais dois anos. Um ambiente sem concorrência leva a isso. Quando a gente entrou e fez uma oferta, a Globo voltou e refez a proposta dela, e foi aí que surgiu a proposta à qual você se refere, de R$ 1,1 bilhão, sendo R$ 1 bilhão para aberta e R$ 100 milhões para fechada. Ou seja, ela deixou de propor a redução de 25% e transformou o empréstimo em luvas. A entrada do Esporte Interativo fez com que a Globo melhorasse em cerca de 40% o valor de sua oferta inicial".
"Vou fazer uma confidência, nesse ponto. Um dos clubes que não fechou com o EI nos disse o seguinte: "eu não tenho dúvidas de que a proposta de vocês é superior à última da Globo, mas não tenho coragem de tomar essa decisão". O que está embutido nessa falta de coragem? Difícil dizer".
Esses foram argumentos [do EI não ter estrutura técnica para fazer transmissões de alto nível] que foram criados pela própria Globo para tentarem convencer os clubes [a não fecharem com o EI] e que bastaram cinco minutos de conversa com os clubes, mostrando a qualidade das nossas transmissões internacionais e da Copa do Nordeste, para resolver. Aliás, vou desmistificar um ponto: contratamos as mesmas produtoras que o SporTV para fazer nossos jogos. Essa tentativa de criar um mito em torno da qualidade de produção só tem fundo comercial.
"Temos críticas de críticos de TV, mas temos pessoas apaixonadas por nossas transmissões. Nós fazemos de coração. O EI nasceu da paixão de pessoas por esporte e porque queriam trabalhar com isso pelo resto da vida. As transmissões refletem o nível de paixão das pessoas que participam do projeto. Se às vezes a gente exagera, o torcedor também exagera. Não temos vergonha de sermos torcedores. Não no sentido de torcer por um time, mas de dividir a emoção e a paixão daquele momento. Cito um momento em que sofremos críticas. Nossa repórter, Monique Danello, estava cobrindo as quartas de final do mundial feminino de handebol. Quando ficou claro que o Brasil ia conseguir a classificação inédita para a semifinal, ela apareceu na TV aos prantos. Há duas maneiras de ver isso: uma crítica pela falta de profissionalismo; e outra de que aquilo é a emoção do esporte. A gente deixa a repórter demonstrar sua emoção verdadeira".
"Hoje, só dois jogos por rodada são transmitidos na TV fechada. E isso não vai mudar. O número não será reduzido, em hipótese alguma. A maioria dos jogos já passa no pay-per-view, e continuará assim. Por rodada, continuaremos com três jogos na TV aberta, a maioria no pay-per-view e no mínimo dois na TV fechada. Portanto, não precisaremos de nenhum acordo entre emissoras".
Procurada pela Folha de S. Paulo, o Grupo Globo respondeu que não vai comentar as avaliações de Edgar Diniz sobre a concorrência pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro a partir de 2019.
CLUBES CATARINENSES
Dois clubes de Santa Catarina não mais negociam acordo com o Esporte Interativo com relação ao repasse dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro Série A, a partir de 2019.
De acordo com a Folha de S. Paulo, por Marcel Rizzo, Avaí e a Chapecoense preparam detalhes do contrato que assinarão com a Globo.
Fonte:http://www.esporteemidia.com/2016/03/executivo-do-esporte-interfativo-diz.html
Postar um comentário
Deixe seu comentário