Produzida na Colômbia por uma empresa francesa, sob encomenda de uma companhia norte-americana, protagonizada e dirigida por brasileiros, falada em espanhol e inglês, distribuída em mais de cem países ao mesmo tempo, Narcos é o exemplo mais acabado de uma série globalizada.
"A Netflix está mudando. Cinco, seis anos atrás, a gente não tinha mercado internacional. Pensávamos no máximo no Canadá. Hoje, 40% de nossos assinantes estão fora dos Estados Unidos. Em pouco tempo, mais da metade do nosso público vai ser internacional. Isso muda a forma como produzimos nossas séries", disse Erik Barmack, vice-presidente de produções internacionais da Netflix no Rio Content Market, na semana passada.
Mais do mudar a Netflix, o sucesso de Narcos indica que a televisão como um todo irá mudar. Cada vez mais programadoras internacionais produzirão conteúdo para o mundo todo ou para blocos de países _e não mais apenas para um país ou para os Estados Unidos e o resto do mundo. Assim como é inevitável que o futuro dos canais pagos e das emissoras abertas será a distribuição on demand, a cabo ou pela internet, cada vez mais o telespectador educado pelos torrents e pela Netflix irá exigir conteúdo de diferentes línguas e culturas.
A Netflix não inventou nenhuma roda. Antes dela e das cotas de conteúdo nacional, a HBO, por exemplo, já produzia séries no Brasil, Chile e Argentina e os exibia em vários países. O que a Netflix fez foi acelerar e radicalizar essa globalização _e o sucesso de Narcos premia essa ousadia.
A TV aberta também já se envolve nessa nova fase da globalização do audiovisual. A Globo, por exemplo, começa a gravar em abril, em parceria com o cineasta argentino Daniel Burman, uma versão para toda a América Latina da série Supermax, ainda inédita no Brasil. A produção que mistura gêneros (drama, reality show, terror, policial) será o Narcos da Globo, embora limitada às Américas de língua portuguesa e espanhola.
A tecnologia impulsiona esse movimento. Programadoras de TV por assinatura como Fox e HBO estão virando plataformas de video on demand. Sem as limitações de espaço das operadoras de TV paga e sem a cadeira de força da audiência que guia as grades lineares, as programadoras estabelecidas em plataformas digitais poderão dispor em seus catálogos nos Estados Unidos ou na Inglaterra de séries realizadas no Peru, na Coreia do Sul ou na Itália.
A Netflix está avançada nesse processo. Como demonstrou Erik Barmak no Rio Content, está hoje tocando sete projetos fora dos Estados Unidos, todos realizados com estruturas de produção locais e com distribuição global.
Da França, em 5 de maio, teremos Marseille, um drama encomendado para ter "feeling de cinema francês", estrelado por Gérard Depardieu. Ingovernable, sobre uma primeira-dama acusada de matar o presidente, será a segunda produção original da Netflix no México. No começo de 2017, estreia Suburra, uma típica produção sobre máfia italiana, produzida pela Cattleya, da série Gomorra (2014). Na Alemanha está sendo gravado Black, um drama thriller sobre três gerações de quatro diferentes famílias rivais.
No Brasil, desde a última sexta-feira (11), a Netflix produz 3%, uma ficção científica. Curiosamente, os dados que orientam as decisões dos executivos do serviço de vídeo em streaming mostram que brasileiro gosta de... ficção científica. Pelo visto, essa nova fase da globalização (a globalização de mão dupla) do audiovisual vai mudar muitos conceitos _até aquele que diz que brasileiro gosta mesmo é de comédia e drama.
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